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A Volta da Chupeta: Tendência Chinesa Entre Adultos Desperta Alerta Médico

De conforto emocional a riscos odontológicos, o uso de chupetas por adultos na China vira moda e levanta debates sobre saúde mental, dependência comportamental e os limites das estratégias de enfrentamento da ansiedade.

O mundo da saúde e do comportamento humano está constantemente sendo desafiado por tendências inesperadas, especialmente quando essas práticas nascem em mercados como o chinês, onde a mistura entre tradição, tecnologia e cultura popular frequentemente gera fenômenos peculiares. O mais recente deles envolve um item conhecido de todos nós: a chupeta. Associada tradicionalmente a bebês, a chupeta está sendo adotada por adultos chineses como uma ferramenta para reduzir o estresse, melhorar o sono e até mesmo auxiliar no abandono de vícios como o tabagismo.

Comercializadas em plataformas online como versões adultas do item infantil, essas chupetas de silicone ou borracha vêm ganhando destaque, tanto pelo número de vendas com relatos de vendedores que afirmam comercializar milhares por mês  quanto pelas reações que têm gerado entre profissionais da saúde. Dentistas, psicólogos e psiquiatras têm expressado preocupação quanto aos efeitos a longo prazo dessa prática, tanto no corpo quanto na mente.

Neste artigo, vamos explorar essa tendência de forma aprofundada: desde sua origem cultural e comercial até os impactos físicos e psicológicos envolvidos. Também discutiremos os mecanismos de coping (formas de lidar com o estresse) e como a sociedade atual vem buscando conforto em hábitos regressivos. Vamos entender o que há por trás do uso da chupeta por adultos e quais os riscos e potenciais que esse comportamento carrega.

Youtuber revela que usar chupeta é um hábito (Foto: Reprodução/Youtube)

A Gênese de uma Tendência: Chupetas Para Adultos na China

A tendência teve início em fóruns online, vídeos de plataformas como Douyin (o TikTok chinês) e no comércio eletrônico. Inicialmente, algumas pessoas relataram o uso do item por curiosidade ou como brincadeira. Logo, o conteúdo viralizou e vendedores passaram a comercializar versões feitas especialmente para adultos, maiores, com materiais reforçados e até com cores discretas e design minimalista.

 O Perfil dos Usuários

Grande parte dos consumidores são jovens entre 20 e 35 anos, muitos vivendo em grandes cidades, sob pressão constante de estudos, trabalho e expectativas familiares. As razões citadas para o uso incluem:

  • Redução de ansiedade em momentos de estresse

  • Facilidade para dormir

  • Substituição ao hábito de fumar

  • Sensação de acolhimento e segurança emocional

A Chupeta Como Ferramenta de Regulação Emocional

O uso de objetos associados à infância pode trazer uma sensação de conforto por remeter a um tempo em que o indivíduo se sentia protegido e sem responsabilidades. Psicologicamente, isso pode ser entendido como uma forma de regressão um mecanismo inconsciente em que a pessoa recua a um estágio anterior do desenvolvimento como forma de defesa.

 Mecanismos de Coping e Evitação

Estratégias de Coping | Atlas da Saúde

Psicólogos classificam a chupeta adulta como uma estratégia de “coping evitativo”. Ou seja, em vez de enfrentar as causas da ansiedade  como problemas no trabalho ou relacionamentos o indivíduo mascara os sintomas com algo que proporciona alívio imediato. Embora possa parecer inofensivo, esse tipo de coping pode retardar o desenvolvimento de habilidades emocionais saudáveis.

O Papel do Tato Oral

O sistema nervoso humano possui uma forte ligação com a região oral. Mastigar, soprar ou chupar são atos que, quando estimulados, podem desencadear sensações de relaxamento. Isso explica o porquê de chicletes, palitos de dente ou mesmo canetas na boca serem tão comuns em situações de tensão.

Os Riscos Odontológicos Envolvidos

Dentistas como Tang Caomin alertam que o uso prolongado da chupeta por adultos pode causar:

  • Desalinhamento dentário

  • Alterações na mordida

  • Modificações na estrutura mandibular

  • Dificuldades para mastigar alimentos sólidos

  • Desenvolvimento de bruxismo

 Comparação com o Uso Infantil

Enquanto bebês perdem a chupeta em torno dos 2 a 3 anos, adultos tendem a usá-la por longos períodos, muitas vezes por horas seguidas. Isso potencializa os efeitos negativos que seriam, teoricamente, mínimos se o uso fosse esporádico.

 Impacto em Próteses, Aparelhos e Cirurgias Odontológicas

Pessoas com próteses dentárias, aparelhos ortodônticos ou histórico de cirurgias bucais devem evitar completamente esse hábito. A pressão contínua pode desestabilizar estruturas delicadas ou comprometer tratamentos em andamento.

 A Chupeta e a Cultura do Conforto Instantâneo

A geração digital cresceu com respostas rápidas, entregas em horas e estímulos constantes. Dentro dessa lógica, é compreensível que hábitos como o uso da chupeta sejam vistos como válidos  mesmo que biologicamente não apropriados. A busca incessante por conforto imediato substitui práticas de longo prazo como terapia, meditação e autocuidado estruturado.

Infantilização Cultural e Entretenimento

A indústria cultural, sobretudo no Oriente, estimula a “fofura” (kawaii no Japão, meng na China) como valor estético e comportamental. Personagens, acessórios e hábitos infantis são resgatados e valorizados, criando uma ambiência em que o uso de uma chupeta por um adulto não causa tanto estranhamento.

Alternativas Saudáveis para Reduzir Estresse e Ansiedade

  • Respiração diafragmática

  • Meditação guiada

  • Mindfulness

Essas técnicas têm efeito calmante comprovado e podem ser aplicadas em qualquer ambiente, com poucos minutos por dia.

 Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

A TCC é eficaz no tratamento de ansiedade e depressão, ajudando o paciente a identificar padrões de pensamento disfuncionais e substituí-los por estratégias mais saudáveis.

Atividades de Regulação Emocional

  • Esportes de intensidade moderada (caminhada, natação)

  • Práticas artísticas (pintura, cerâmica, escrita)

  • Contato com a natureza

Casos Reais: Depoimentos e Controvérsias

Uma jovem de 26 anos relatou que passou a usar a chupeta durante a pandemia e nunca mais largou: “Me acalma mais que qualquer remédio.” Outro usuário afirmou que conseguiu parar de fumar ao substituí-la pela chupeta: “Quando bate a vontade, pego ela em vez do cigarro.”

Oposições e Críticas

Já especialistas defendem que o conforto momentâneo não justifica os danos. “Você não pode tratar a ansiedade com uma chupeta. É como colocar um balde sob uma goteira sem consertar o telhado”, disse um psicólogo de Pequim.

Implicações Sociais e Estigma

Apesar da popularidade, muitos usuários relatam vergonha e preferem usar a chupeta apenas em casa. O medo de serem vistos como “infantis”, “fracos” ou “estranhos” ainda prevalece.

O Papel da Mídia e do Comércio

Plataformas de e-commerce promovem a chupeta como uma solução “moderna” e “alternativa” ao estresse. Influenciadores digitais demonstram o uso com naturalidade, ajudando a criar uma bolha de aceitação que pode mascarar os riscos.

O Que Dizem os Especialistas?

Psicólogos

  • A prática não é necessariamente patológica, mas deve ser acompanhada de outros métodos de enfrentamento emocional.

  • Pode indicar carência afetiva, traumas não resolvidos ou altos níveis de estresse crônico.

Psiquiatras

  • Não há contraindicação médica direta, mas pode ser um sinal de alerta para distúrbios subjacentes, como Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).

Dentistas

  • Enfatizam que o uso não deve ultrapassar 10 a 15 minutos, e que qualquer impacto dental deve ser acompanhado profissionalmente.

O Futuro da Tendência: Modismo Passageiro ou Comportamento Duradouro?

 Expansão para Outros Países

Já há registros de vendas similares no Japão, Coreia do Sul e até em lojas online ocidentais. A tendência pode se espalhar globalmente, especialmente entre jovens urbanos.

Possível Regulamentação

Com o aumento da procura, órgãos de saúde poderão exigir selos de advertência ou estudos clínicos para aprovar a comercialização em larga escala.

 Evolução da Chupeta: Tecnologias Futuras

Empresas já estudam versões com sensores, aromaterapia, ou conectadas a apps de monitoramento de humor. A tecnologia poderá transformar a chupeta em um dispositivo multifuncional.

Conclusão

A moda das chupetas para adultos na China revela mais do que uma curiosidade cultural: trata-se de um espelho do nosso tempo. Um tempo de estresse constante, de busca por conforto imediato e de regressão emocional em meio a um mundo cada vez mais exigente. Embora o uso do item possa parecer inofensivo à primeira vista, ele levanta questionamentos importantes sobre os limites entre estratégias de enfrentamento saudáveis e a substituição de soluções reais por paliativos.

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