Refrigerante diário: Novo estudo mostra que até uma lata por dia pode causar danos silenciosos ao fígado
Pesquisas internacionais alertam que o consumo de refrigerantes — inclusive as versões “zero” e diet — pode provocar inflamação e acúmulo de gordura no fígado, aumentando o risco de cirrose e câncer hepático.
Ele está presente em almoços de família, festas e até em pausas rápidas do trabalho. O refrigerante, símbolo de conveniência e prazer imediato, é uma das bebidas mais consumidas do mundo. No entanto, o que para muitos é apenas um hábito cotidiano pode esconder um perigo silencioso para o fígado.
Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel, publicaram recentemente um estudo no Journal of Hepatology que vem chamando a atenção da comunidade médica global. Segundo os cientistas, o consumo diário de apenas uma lata de refrigerante já é suficiente para causar acúmulo de gordura no fígado, um quadro conhecido como Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA).
O mais alarmante é que esse risco não se restringe às versões tradicionais com açúcar — os refrigerantes “zero” e diet também podem causar danos significativos, devido aos adoçantes artificiais e seus efeitos na microbiota intestinal.
A seguir, exploramos os resultados desse estudo em detalhes, os mecanismos biológicos envolvidos, os riscos de longo prazo e as medidas mais eficazes para proteger seu fígado — um órgão vital que, segundo os especialistas, “só dá sinais quando o problema já está avançado”.

1. O estudo que acendeu o alerta global
A pesquisa israelense acompanhou centenas de adultos por mais de seis anos, avaliando seus hábitos alimentares, exames de sangue e ultrassonografias hepáticas.
Os resultados mostraram uma relação direta entre o consumo diário de refrigerantes e o acúmulo de gordura no fígado, mesmo em pessoas sem sobrepeso e que não bebiam álcool.
Os cientistas observaram que:
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Indivíduos que consumiam uma lata de refrigerante por dia apresentaram um aumento de até 70% no risco de desenvolver DHGNA.
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Mesmo refrigerantes sem açúcar estavam associados a alterações metabólicas hepáticas, ligadas à presença de adoçantes artificiais como aspartame, sucralose e acessulfame-K.
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Os participantes que substituíram refrigerantes por água ou sucos naturais apresentaram melhora significativa nos marcadores hepáticos.
O estudo concluiu que os danos ao fígado causados por refrigerantes podem ocorrer de forma mais rápida e silenciosa do que os causados pelo álcool, justamente porque o açúcar e os adoçantes alteram o metabolismo celular de modo insidioso e contínuo.
2. O que é a Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA)

A DHGNA é uma condição caracterizada pelo acúmulo de gordura nas células do fígado que não está relacionado ao consumo de álcool.
Ela é considerada a nova epidemia silenciosa do século XXI, afetando cerca de 25% da população mundial. No Brasil, estima-se que 1 em cada 4 adultos tenha algum grau de gordura hepática.
O grande perigo é que a doença não causa sintomas nas fases iniciais. Quando surgem sinais como cansaço, dor abdominal ou enjoo, o fígado já pode estar comprometido.
A evolução da DHGNA segue um percurso preocupante:
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Esteatose hepática: acúmulo de gordura nas células do fígado.
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Esteato-hepatite: inflamação do fígado associada à gordura.
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Fibrose: formação de tecido cicatricial.
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Cirrose: perda da função hepática.
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Carcinoma hepatocelular (câncer de fígado): estágio terminal da doença.
3. Açúcar e adoçantes: vilões modernos do metabolismo hepático
O principal fator por trás da relação entre refrigerantes e DHGNA é o excesso de frutose e glicose, combinado à ação tóxica dos adoçantes artificiais.
3.1. A frutose e o “fígado açucarado”
A frutose — um dos principais açúcares usados na indústria de refrigerantes — é metabolizada quase exclusivamente pelo fígado.
Quando ingerida em grandes quantidades, ela sobrecarrega o órgão, que converte o excesso em gordura.
Com o tempo, essa gordura se acumula nas células hepáticas, provocando resistência à insulina, inflamação e dano oxidativo. Esse processo é conhecido como lipogênese hepática.
Segundo os pesquisadores israelenses, a frutose líquida dos refrigerantes é ainda mais perigosa, pois é absorvida rapidamente e não gera sensação de saciedade — o que leva ao consumo excessivo.
3.2. Os riscos dos adoçantes artificiais

Engana-se quem acredita que os refrigerantes “zero açúcar” são totalmente seguros.
Substâncias como aspartame, sucralose e sacarina alteram a microbiota intestinal, afetando a produção de enzimas e interferindo no metabolismo da glicose e dos lipídios.
Essa disbiose intestinal aumenta a passagem de toxinas e compostos inflamatórios para a corrente sanguínea, sobrecarregando o fígado e provocando inflamação crônica de baixo grau — uma das causas da DHGNA.
4. Refrigerante versus álcool: qual é pior para o fígado?

O álcool sempre foi o principal vilão das doenças hepáticas. Porém, o novo estudo mostra que o refrigerante pode ser igualmente ou até mais prejudicial quando consumido diariamente.
Enquanto o álcool causa lesão direta nas células hepáticas por meio da toxicidade do etanol, o refrigerante altera o metabolismo do fígado e provoca inflamação sistêmica.
Ambos resultam em acúmulo de gordura, estresse oxidativo e redução da capacidade de regeneração do órgão.
“O fígado é um órgão silencioso. Quando ele dá sinais, o problema já pode estar avançado”, alertam os autores do estudo.
O diferencial é que poucas pessoas percebem o refrigerante como uma ameaça real, o que torna seus efeitos ainda mais perigosos pela constância e banalização do consumo.
5. O impacto na microbiota intestinal
O intestino e o fígado estão profundamente conectados — essa comunicação é conhecida como eixo intestino-fígado.
Quando adoçantes e açúcares refinados alteram o equilíbrio da flora intestinal, bactérias nocivas proliferam, gerando endotoxinas que passam para o sangue e chegam ao fígado.
Esse processo, chamado de endotoxemia metabólica, desencadeia respostas inflamatórias crônicas e contribui para a resistência à insulina e o acúmulo de gordura hepática.
Em resumo, o refrigerante danifica indiretamente o fígado ao desregular o intestino, mostrando que o problema é mais sistêmico do que se imaginava.
6. Os efeitos invisíveis: como o fígado sofre em silêncio
Diferente de outros órgãos, o fígado não possui terminações nervosas de dor. Isso significa que ele pode estar em sofrimento sem causar sintomas perceptíveis por anos.
Os danos causados pelos refrigerantes se acumulam lentamente, até que o fígado perde parte de sua capacidade de regeneração.
Entre os sinais sutis que podem indicar problemas hepáticos estão:
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Cansaço constante;
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Inchaço abdominal;
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Náusea leve após refeições gordurosas;
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Alterações nos exames de sangue (aumento das enzimas hepáticas);
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Escurecimento da urina e fezes claras.
Infelizmente, muitas pessoas só descobrem o problema em estágios avançados, quando o fígado já apresenta fibrose ou cirrose.
7. O papel da indústria e o desafio da moderação
A indústria de bebidas açucaradas movimenta bilhões de dólares por ano e investe fortemente em marketing emocional, associando refrigerantes a momentos de alegria, amizade e celebração.
Porém, estudos mostram que a propaganda tem mascarado os reais impactos metabólicos dessas bebidas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda menos de 10% das calorias diárias vindas de açúcares livres, mas uma única lata de refrigerante comum (350 ml) contém cerca de 37 gramas de açúcar, o equivalente a 7 colheres de chá.
Ou seja, apenas uma lata ultrapassa metade da dose diária recomendada.
Já nas versões “zero”, o perigo está no consumo constante de adoçantes artificiais, que podem provocar os mesmos efeitos metabólicos e alterar o apetite, levando à compulsão alimentar.
8. Consequências a longo prazo
O consumo frequente de refrigerantes está associado a uma série de doenças metabólicas e hepáticas. Entre elas:
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Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA);
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Resistência à insulina e diabetes tipo 2;
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Aumento do colesterol e triglicerídeos;
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Cirrose e insuficiência hepática;
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Câncer de fígado;
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Obesidade e síndrome metabólica;
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Doenças cardiovasculares.
Essas condições estão interligadas e, em muitos casos, têm como origem o consumo exagerado de bebidas adoçadas, tanto com açúcar quanto com adoçantes artificiais.
9. Como reduzir os danos e proteger o fígado
Segundo os especialistas, a boa notícia é que o fígado tem grande capacidade de regeneração, desde que as agressões sejam interrompidas a tempo.
Veja algumas medidas eficazes para preservar a saúde hepática:
✅ Prefira água e água com gás. Elas hidratam sem causar sobrecarga.
✅ Substitua o refrigerante por sucos naturais sem açúcar ou chás gelados.
✅ Evite bebidas adoçadas diariamente. Reserve o consumo para ocasiões raras.
✅ Aumente a ingestão de frutas, verduras e fibras. Esses alimentos ajudam o fígado a metabolizar gorduras.
✅ Pratique atividade física regularmente. O exercício estimula o metabolismo hepático e reduz a gordura visceral.
✅ Mantenha um peso corporal saudável. O sobrepeso é um dos principais fatores de risco para a DHGNA.
✅ Evite o consumo combinado de álcool e refrigerantes. A associação potencializa os danos.
✅ Faça exames regulares de função hepática. AST, ALT e GGT são marcadores importantes para detectar alterações precoces.
10. Alimentação amiga do fígado
Além da redução dos refrigerantes, adotar uma alimentação equilibrada pode ajudar a desintoxicar e fortalecer o fígado.
Entre os alimentos mais recomendados pelos hepatologistas estão:
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Abacate: rico em glutationa, um antioxidante natural do fígado;
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Alho e cebola: ajudam na eliminação de toxinas;
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Chá-verde: contém catequinas que reduzem o acúmulo de gordura;
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Brócolis e couve-flor: auxiliam na produção de enzimas desintoxicantes;
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Cúrcuma: potente anti-inflamatório natural;
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Beterraba: estimula a função hepática e melhora a circulação;
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Limão: favorece a digestão e o equilíbrio ácido-base.
Esses alimentos, aliados à redução do consumo de bebidas adoçadas, podem reverter os primeiros sinais de gordura no fígado em poucas semanas, segundo estudos clínicos.
11. Políticas públicas e conscientização
A OMS e outras entidades de saúde pública vêm defendendo políticas de restrição ao consumo de bebidas açucaradas, semelhantes às aplicadas ao tabaco e ao álcool.
Alguns países já implementaram taxas sobre refrigerantes, e os resultados são animadores: no México, por exemplo, o consumo caiu 12% no primeiro ano após a introdução do imposto.
No Brasil, campanhas educativas e a inclusão de rótulos de alerta sobre excesso de açúcar e adoçantes estão entre as principais medidas em discussão.
A conscientização é essencial, especialmente entre jovens e crianças, principais consumidores dessas bebidas. Afinal, quanto mais cedo o hábito é formado, mais difícil é revertê-lo na vida adulta.
12. O perigo dos refrigerantes “disfarçados”
Nem sempre o perigo está apenas no refrigerante tradicional. Bebidas como energéticos, águas saborizadas e chás industrializados também contêm quantidades elevadas de açúcar e adoçantes.
Algumas marcas chegam a usar o termo “fit” ou “natural” no rótulo, mas, ao ler a lista de ingredientes, nota-se a presença de xaropes e adoçantes artificiais.
É importante sempre ler os rótulos e desconfiar de produtos que prometem sabor intenso sem calorias. Em muitos casos, o efeito metabólico no fígado é o mesmo.
13. O poder da informação e das pequenas mudanças
Mudar hábitos alimentares não é fácil — especialmente quando se trata de produtos que fazem parte da cultura e do prazer cotidiano. No entanto, pequenas mudanças diárias podem gerar grandes resultados para o fígado e para a saúde geral.
Substituir o refrigerante por água com gás e limão, por exemplo, já reduz drasticamente a ingestão de açúcares e aditivos.
Com o tempo, o paladar se adapta, e a necessidade de sabores extremamente doces diminui.
A consciência é o primeiro passo para a prevenção. O segundo é a ação constante e informada.
14. Conclusão: um copo por dia pode custar caro à saúde
O estudo da Universidade de Tel Aviv trouxe à tona uma verdade incômoda: o consumo diário de refrigerantes mesmo em pequenas quantidades é prejudicial ao fígado e à saúde geral.
Tanto o açúcar quanto os adoçantes artificiais provocam inflamação, disfunção metabólica e acúmulo de gordura hepática, podendo levar à Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica e, em casos mais graves, à cirrose e ao câncer de fígado.
O refrigerante pode parecer inofensivo, mas seu impacto é real e cumulativo.
Como lembram os pesquisadores, “o fígado é um órgão silencioso quando ele dá sinais, o problema já pode estar avançado.”
Optar por água, sucos naturais e uma alimentação equilibrada é mais do que uma escolha estética: é uma decisão de autocuidado e longevidade.






