O lado oculto da melatonina: Estudo revela riscos de insuficiência cardíaca e morte associados ao uso prolongado do hormônio do sono
Embora popularmente vista como uma solução natural para dormir melhor, novas pesquisas indicam que o uso contínuo da melatonina sintética pode causar sérios impactos à saúde cardiovascular e aumentar o risco de mortalidade.
A melatonina, muitas vezes chamada de “hormônio do sono”, é uma das substâncias mais utilizadas no mundo para combater a insônia e regular o ciclo circadiano. Vendida sem prescrição médica em diversos países, ela ganhou fama por ser uma alternativa “natural” aos remédios controlados. No entanto, um novo estudo acendeu um alerta: o uso prolongado da melatonina sintética pode estar longe de ser inofensivo. Pesquisadores descobriram que pessoas que utilizam o suplemento de forma contínua apresentam maior probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca, sofrer hospitalizações e, em casos mais graves, morrer prematuramente.
O estudo traz à tona uma discussão importante sobre os riscos do uso indiscriminado de substâncias hormonais, especialmente quando associadas à automedicação. Este artigo explora em detalhes o que a ciência descobriu, como a melatonina atua no organismo, quais são seus potenciais efeitos colaterais e como usá-la com segurança.

A popularização da melatonina: De hormônio natural a suplemento global

A melatonina é um hormônio produzido naturalmente pela glândula pineal, localizada no cérebro. Sua função principal é regular o ciclo de sono e vigília o chamado ritmo circadiano. Quando a noite cai e a luz ambiente diminui, o corpo aumenta a produção de melatonina, sinalizando que é hora de descansar.
Com o avanço da vida moderna, o uso de telas, o estresse e a exposição à luz artificial passaram a interferir nesse processo biológico. O resultado? Um número crescente de pessoas sofrendo com insônia ou distúrbios do sono. Diante desse cenário, a melatonina sintética foi apresentada como uma solução rápida, acessível e aparentemente segura.
Estima-se que milhões de pessoas em todo o mundo façam uso do suplemento regularmente, especialmente nos Estados Unidos, Europa e Brasil. No entanto, o fato de ser vendida sem receita contribuiu para a falsa percepção de que seu consumo é livre de riscos.
O estudo que mudou a percepção:
Quando o remédio se torna risco Pesquisadores de uma renomada universidade europeia (dados publicados em 2025 no European Journal of Cardiology) acompanharam mais de 40 mil indivíduos diagnosticados com insônia crônica ao longo de dez anos. O objetivo era avaliar os efeitos do uso contínuo da melatonina sintética na saúde geral, com ênfase em doenças cardiovasculares.
Os resultados surpreenderam:
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Usuários de longo prazo de melatonina apresentaram 28% mais chances de desenvolver insuficiência cardíaca.
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O risco de internações hospitalares aumentou em 34% entre os usuários regulares.
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A taxa de mortalidade por causas cardiovasculares foi 17% maior entre aqueles que faziam uso contínuo do hormônio.
Esses números indicam que a melatonina, embora útil em curto prazo e sob supervisão médica, pode trazer consequências sérias quando usada de forma prolongada e sem acompanhamento.
Por que a melatonina pode afetar o coração?
A princípio, pode parecer estranho que uma substância associada ao sono esteja relacionada a problemas cardíacos. Porém, o corpo humano é altamente interconectado — e o sistema cardiovascular é sensível a alterações hormonais.
A melatonina influencia não apenas o sono, mas também o sistema nervoso autônomo, responsável por controlar a frequência cardíaca e a pressão arterial. Quando administrada artificialmente por longos períodos, pode causar desequilíbrios hormonais que afetam o ritmo cardíaco.
Além disso, a melatonina sintética pode interferir na regulação dos vasos sanguíneos, dificultando a vasodilatação e alterando a oxigenação dos tecidos. Com o tempo, essas mudanças sutis podem contribuir para o desgaste do coração e dos vasos.
Outro fator preocupante é que muitos usuários combinam a melatonina com outros medicamentos, como antidepressivos, ansiolíticos e remédios para pressão. Essas interações podem potencializar riscos, especialmente em pessoas com doenças preexistentes.
Uso inadequado e automedicação: o grande vilão silencioso
Um dos principais problemas em torno da melatonina é a falsa sensação de segurança. Como é vendida sem prescrição em muitos países e rotulada como “natural”, muitos consumidores acreditam que não há perigo em usá-la diariamente.
No entanto, a automedicação mascara sintomas mais sérios. A insônia crônica pode ter múltiplas causas — ansiedade, depressão, apneia do sono, distúrbios hormonais — e o uso indiscriminado da melatonina pode atrasar o diagnóstico correto.
Além disso, há uma enorme variação nas doses disponíveis no mercado. Enquanto o corpo humano produz, naturalmente, algo em torno de 0,3 mg de melatonina por noite, muitos suplementos oferecem de 3 mg a 10 mg por cápsula — mais de 30 vezes a quantidade fisiológica.
Essa superdosagem constante pode alterar os ciclos biológicos e comprometer o funcionamento do sistema endócrino.
Os efeitos colaterais mais comuns da melatonina
Embora seja considerada segura em curto prazo, a melatonina sintética pode causar uma série de efeitos colaterais, principalmente quando usada de forma prolongada. Entre os mais relatados estão:
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Sonolência diurna excessiva
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Dores de cabeça e tontura
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Alterações no humor e irritabilidade
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Dificuldade de concentração e lapsos de memória
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Mudanças hormonais, como irregularidades menstruais
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Aumento da pressão arterial em pessoas sensíveis
Em casos mais raros, usuários relataram palpitações, ansiedade noturna e sensação de confusão mental — sintomas que geralmente desaparecem após a suspensão do uso.
Melatonina e saúde mental: o equilíbrio delicado
A melatonina está diretamente ligada à regulação da serotonina, neurotransmissor responsável pelo humor e bem-estar. Isso significa que seu uso pode afetar o equilíbrio emocional, tanto de forma positiva quanto negativa.
Pesquisas sugerem que doses controladas podem aliviar sintomas de ansiedade leve e melhorar a qualidade do sono. Porém, quando administrada de forma constante e em doses elevadas, pode provocar o efeito oposto: irritabilidade, apatia e sensação de desorientação emocional.
Esse desequilíbrio é particularmente preocupante em pessoas que já fazem tratamento para depressão ou transtornos de ansiedade.
Alternativas naturais para dormir melhor
Em vez de recorrer diretamente à melatonina sintética, especialistas recomendam adotar estratégias de higiene do sono e técnicas naturais para melhorar o descanso. Algumas delas incluem:
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Evitar telas (celulares, computadores, TV) pelo menos uma hora antes de dormir.
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Manter horários regulares de sono, mesmo nos fins de semana.
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Diminuir o consumo de cafeína e álcool no período da noite.
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Criar um ambiente escuro, silencioso e fresco no quarto.
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Praticar atividades relaxantes como meditação, leitura leve ou respiração guiada.
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Consultar um médico ou terapeuta do sono, especialmente se o problema for persistente.
Além disso, algumas ervas e compostos naturais, como camomila, valeriana, lavanda e magnésio, podem ajudar a relaxar sem os mesmos riscos hormonais.
O que dizem os especialistas sobre o futuro da melatonina
Com os novos dados científicos, especialistas em endocrinologia e cardiologia alertam que é hora de rever o uso generalizado da melatonina. Em vez de ser considerada um suplemento inofensivo, deve ser tratada como um hormônio com efeitos sistêmicos, cuja dosagem e duração precisam de acompanhamento médico.
Há também um movimento crescente entre agências de saúde para regulamentar melhor os suplementos hormonais, exigindo mais transparência na rotulagem e nos níveis reais de concentração.
Enquanto isso, médicos reforçam que a melatonina pode continuar sendo uma ferramenta útil — desde que usada por períodos curtos e sob orientação profissional.
Reflexão: o preço da busca por uma boa noite de sono
Vivemos em uma era de esgotamento físico e mental, em que dormir bem se tornou um luxo. Nesse contexto, a promessa de um sono fácil e imediato em forma de cápsula é extremamente tentadora.
No entanto, como revela o estudo, o corpo humano não é uma máquina que pode ser ajustada com atalhos hormonais. Cada ciclo, cada substância e cada ritmo interno fazem parte de uma engrenagem delicada. Quando alteramos essa harmonia por conta própria, as consequências podem ser profundas.
A verdadeira solução para o sono — e para o equilíbrio da mente e do corpo — talvez esteja menos em comprimidos e mais em mudanças no estilo de vida, na gestão do estresse e na reconexão com os ritmos naturais.
Conclusão:
A melatonina, antes vista como um aliado inofensivo do sono, passa agora por uma reavaliação científica e médica. O novo estudo evidencia que seu uso prolongado pode trazer riscos reais à saúde, especialmente ao coração. Mais do que nunca, é essencial entender que nem tudo o que é “natural” é seguro — e que o acompanhamento profissional é indispensável para garantir que o tratamento do sono não se torne uma ameaça à vida.






