Dia 08 de Setembro – Dia Internacional da Alfabetização: a importância do conhecimento como ferramenta de transformação social
Uma data para refletir sobre os avanços, os desafios e as perspectivas do direito à leitura e à escrita no mundo
O dia 08 de setembro é reconhecido internacionalmente como o Dia da Alfabetização, uma data instituída em 1967 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) com o objetivo de chamar a atenção do mundo para a importância da alfabetização como um direito humano fundamental e um pilar para o desenvolvimento social, cultural e econômico.
Apesar dos inúmeros avanços ao longo das décadas, a alfabetização continua sendo um dos maiores desafios globais. Estima-se que mais de 770 milhões de pessoas no mundo ainda não dominem plenamente a leitura e a escrita, segundo relatórios da UNESCO, e uma parcela significativa desse número é composta por mulheres e crianças em países em desenvolvimento.
No Brasil, os números também revelam uma realidade preocupante: embora a taxa de analfabetismo tenha diminuído bastante nos últimos anos, ainda existem milhões de brasileiros adultos que não sabem ler ou escrever. Além disso, um problema igualmente grave é o analfabetismo funcional, que atinge aqueles que, mesmo sabendo ler e escrever palavras simples, não conseguem interpretar textos ou realizar operações matemáticas básicas.
Este artigo busca apresentar uma reflexão aprofundada sobre a alfabetização, abordando sua história, importância, desafios, políticas públicas, impactos sociais, tecnológicos e culturais, além de discutir caminhos possíveis para o futuro da educação e da inclusão social.
1. O que é alfabetização e por que ela é tão importante?
A alfabetização vai muito além do simples ato de aprender a juntar letras e formar palavras. Trata-se de um processo que envolve o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e culturais, permitindo ao indivíduo se comunicar, compreender informações, acessar conhecimento e participar plenamente da sociedade.
Sem alfabetização, o acesso a direitos fundamentais, como saúde, trabalho, cidadania e cultura, torna-se limitado. A pessoa alfabetizada possui maiores condições de entender documentos, interpretar notícias, acompanhar o mundo digital e se inserir no mercado de trabalho.
Além disso, a alfabetização desempenha um papel fundamental na formação da identidade e na autonomia individual, pois permite que o ser humano se torne crítico, consciente e capaz de exercer sua cidadania de maneira plena.
2. A história do Dia Internacional da Alfabetização
A criação do Dia Internacional da Alfabetização, em 1967, foi fruto da preocupação global com os índices de analfabetismo após a Segunda Guerra Mundial. A UNESCO buscava, naquele momento, mobilizar governos e sociedades para a criação de políticas educacionais eficazes.
Ao longo dos anos, a data passou a ser um marco internacional para debates, campanhas e ações de incentivo à leitura e escrita. Diversos países promovem seminários, palestras, programas de conscientização e até festivais de literatura neste dia.
Cada edição do Dia Internacional da Alfabetização traz um tema central, escolhido pela UNESCO, que reflete os principais desafios contemporâneos. Entre os temas já abordados, destacam-se:
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Alfabetização e desenvolvimento sustentável.
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Alfabetização digital.
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Alfabetização como caminho para a paz.
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Alfabetização em tempos de pandemia.
Esses enfoques mostram como o conceito de alfabetização se expandiu ao longo do tempo, acompanhando as transformações sociais e tecnológicas.
3. Alfabetização no Brasil: avanços e desafios
O Brasil tem uma longa história de luta contra o analfabetismo. No início do século XX, mais da metade da população brasileira não sabia ler nem escrever. Graças a campanhas de alfabetização, investimentos em escolas públicas e políticas de inclusão, essa realidade mudou consideravelmente.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2022 a taxa de analfabetismo no Brasil estava em torno de 5,6% da população acima de 15 anos, o que representa aproximadamente 9,6 milhões de pessoas.
Entretanto, os desafios ainda são grandes:
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O analfabetismo funcional afeta cerca de 30% da população brasileira, dificultando a inserção no mercado de trabalho e a participação cidadã.
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A desigualdade regional é marcante, sendo o Nordeste a região com maior número de analfabetos.
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As diferenças de gênero e raça também se refletem nos índices: mulheres negras e moradores de áreas rurais estão entre os grupos mais afetados.
Além disso, a pandemia da COVID-19 agravou ainda mais as dificuldades na alfabetização, pois muitas crianças tiveram acesso precário às aulas remotas, resultando em defasagens significativas no processo de aprendizagem.
4. Alfabetização digital: Um novo desafio do século XXI
No mundo atual, saber ler e escrever já não é suficiente. A chamada alfabetização digital tornou-se essencial para a inclusão plena no século XXI.
Alfabetização digital significa desenvolver a capacidade de utilizar ferramentas tecnológicas, interpretar informações online, distinguir notícias verdadeiras de fake news e participar de maneira segura e crítica no ambiente virtual.
No Brasil, esse é um grande desafio, pois milhões de pessoas ainda vivem em áreas sem acesso à internet de qualidade ou sequer têm equipamentos adequados. Assim, o fosso digital amplia as desigualdades sociais e educacionais.
Portanto, é urgente que as políticas públicas de alfabetização contemplem também a dimensão digital, preparando crianças, jovens e adultos para os desafios da sociedade conectada.
5. Impactos sociais da alfabetização
A alfabetização é um instrumento poderoso de transformação social. Seus impactos podem ser observados em várias áreas:
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Saúde: pessoas alfabetizadas têm maior facilidade para compreender receitas médicas, seguir orientações de prevenção e acessar informações sobre cuidados pessoais.
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Economia: sociedades mais alfabetizadas possuem mão de obra mais qualificada, o que atrai investimentos e gera desenvolvimento.
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Democracia: a alfabetização fortalece a cidadania, pois permite maior participação política, compreensão de direitos e deveres e combate à manipulação.
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Cultura: a leitura e a escrita ampliam o acesso à literatura, às artes e ao patrimônio cultural.
Em contrapartida, a falta de alfabetização contribui para a perpetuação do ciclo da pobreza, exclusão social e desigualdade.
6. Políticas públicas e programas de alfabetização
Ao longo da história, diversos programas de alfabetização foram criados no Brasil e no mundo. Entre eles:
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Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL): criado na década de 1960, tinha como objetivo alfabetizar jovens e adultos, mas foi alvo de críticas pela baixa eficácia.
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Programa Brasil Alfabetizado: implementado em 2003, buscava atender adultos e jovens acima de 15 anos que não tiveram acesso à escola.
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Política Nacional de Alfabetização (PNA): lançada em 2019, foca no letramento de crianças nos primeiros anos do ensino fundamental.
Apesar dos esforços, muitos programas foram interrompidos ou sofreram cortes de recursos, prejudicando a continuidade das ações. Para que a alfabetização avance, é preciso garantir políticas consistentes, de longo prazo e integradas às demais áreas sociais.
7. Alfabetização e literatura: o poder dos livros
A alfabetização abre as portas para o universo da literatura, que, além de entreter, também educa, inspira e transforma. O acesso a bibliotecas, clubes de leitura e eventos literários é fundamental para consolidar o gosto pela leitura desde a infância.
Autores como Monteiro Lobato, Ruth Rocha, Cecília Meireles e Clarice Lispector marcaram gerações de brasileiros com obras que estimularam a imaginação e o pensamento crítico.
Incentivar a leitura desde cedo é uma das estratégias mais eficazes para garantir não apenas a alfabetização, mas também o letramento pleno, ou seja, a capacidade de utilizar a leitura e a escrita em diferentes contextos sociais.
8. O papel da família e da sociedade na alfabetização
A alfabetização não é responsabilidade exclusiva da escola. A família e a comunidade desempenham papéis centrais nesse processo.
Pais e responsáveis podem estimular a leitura em casa, contar histórias, proporcionar acesso a livros e incentivar a curiosidade das crianças. Comunidades podem organizar clubes de leitura, bibliotecas comunitárias, saraus literários e outras atividades culturais que reforçam o aprendizado.
A alfabetização é, portanto, um esforço coletivo que requer o engajamento de toda a sociedade.
9. Caminhos para o futuro da alfabetização
Pensar no futuro da alfabetização exige considerar não apenas a erradicação do analfabetismo, mas também a garantia do letramento digital e crítico.
Alguns caminhos possíveis incluem:
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Investimento em formação de professores.
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Ampliação do acesso à internet e às tecnologias.
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Programas de incentivo à leitura em escolas e comunidades.
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Políticas de inclusão voltadas a grupos vulneráveis.
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Parcerias entre governo, ONGs e setor privado.
Somente com um esforço conjunto será possível construir uma sociedade verdadeiramente alfabetizada e preparada para os desafios do século XXI.
Conclusão
O Dia da Alfabetização, celebrado em 08 de setembro, é muito mais do que uma data no calendário: é um chamado à reflexão e à ação. A alfabetização é um direito humano básico e uma ferramenta de transformação individual e coletiva.
Embora os avanços sejam inegáveis, os desafios ainda são imensos. Erradicar o analfabetismo, reduzir as desigualdades regionais, combater o analfabetismo funcional e ampliar a alfabetização digital são metas urgentes.
A sociedade como um todo governos, escolas, famílias e organizações precisa se engajar nesse compromisso. Afinal, alfabetizar é libertar, incluir e transformar.