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Quem era o jovem morto por leoa em zoológico de João Pessoa? Veja o Vídeo

A história trágica de Gerson de Melo Machado, o “Vaqueirinho”, e a longa batalha contra o abandono, a pobreza e a negligência do Estado

A morte de Gerson de Melo Machado, de apenas 19 anos, no último domingo (30), chocou o Brasil e expôs uma realidade dura, muitas vezes invisível: a de milhares de jovens que crescem entre abandono familiar, pobreza extrema e ausência de acompanhamento psiquiátrico adequado. Conhecido como “Vaqueirinho”, Gerson escalou uma parede de mais de 6 metros no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa (PB), e se jogou no recinto onde estava uma leoa. Minutos depois, foi atacado pelo animal e morreu no local.

Mas quem era esse jovem? O que o levou a cometer um ato tão extremo? E quais alertas esse caso levanta sobre saúde mental, negligência institucional e vulnerabilidade social?

Este artigo aprofunda a vida de Gerson, seus sonhos, sua trajetória marcada por abandono, suas repetidas tentativas de entrar no zoológico e a discussão sobre as falhas estruturais que contribuíram para sua morte.

Quem era o jovem morto por leoa em Zoológico de João Pessoa

1. Uma vida marcada pela pobreza e pelo abandono

A história de Gerson não pode ser resumida apenas ao trágico desfecho dentro de um zoológico. Sua trajetória é um conjunto de violências silenciosas, negligências acumuladas e oportunidades que nunca chegaram.

1.1 Infância de rupturas

Segundo relatos da conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou o rapaz durante oito anos, Gerson foi encontrado sozinho em uma rodovia pela Polícia Rodoviária Federal quando tinha apenas 10 anos. Desorientado e sem familiares presentes, foi encaminhado ao Conselho Tutelar e, desde então, viveu em instituições de acolhimento.

Seus pais o abandonaram:

  • A mãe, esquizofrênica, não tinha condições de cuidar dele.

  • Os avós, também com histórico de esquizofrenia, igualmente não tinham estrutura.

  • Os irmãos foram adotados, mas Gerson ficou para trás — rejeitado justamente por apresentar sinais de transtornos mentais.

“A sociedade quer adotar crianças perfeitas”, afirmou Verônica.
“E isso não existe dentro do acolhimento institucional.”

1.2 O peso da saúde mental não tratada

Entre os 10 e os 18 anos, Gerson esteve sob acompanhamento do Conselho Tutelar de Mangabeira. Porém, apesar de sinais claros de transtornos psiquiátricos, pedidos de laudos e solicitações de avaliação especializada, o Estado insistia que o jovem tinha apenas “problemas comportamentais”.

Segundo a conselheira:

“Será que alguém com problema comportamental entra na jaula do leão? Isso precisava de tratamento. E não foi oferecido.”

A falta de diagnóstico e acompanhamento adequado contribuiu para uma vida de instabilidade emocional, impulsividade e risco constante.

2. O sonho que o acompanhava desde criança: domar leões

Curiosamente, Gerson tinha um sonho antigo e insistente: viajar para a África e domar leões. Para muitos, um delírio infantil. Para ele, uma obsessão que atravessou toda a adolescência.

2.1 A fantasia persistente do “domador”

A conselheira relata que Gerson falava sobre leões desde os 10 anos, acreditando que conseguiria “conversar” com eles. Em um contexto de abandono e falta de vínculos afetivos, o sonho parecia preencher um vazio.

Alguns psicólogos afirmam que crianças que crescem sem estabilidade emocional ou familiar podem desenvolver fantasias grandiosas como forma de compensação; uma tentativa de criar um sentido para sua existência.

2.2 A idolatria pelo animal selvagem

Para jovens em situação de vulnerabilidade, figuras de força e poder — como leões — podem se tornar símbolos de controle que eles nunca tiveram em suas próprias vidas.
O leão, para Gerson, representava:

  • Força

  • Liberdade

  • Autonomia

  • Superação

Mas ele nunca compreendeu verdadeiramente o risco real envolvido.

3. As repetidas tentativas de entrar no zoológico

A Prefeitura de João Pessoa confirmou que essa não foi a primeira vez que Gerson tentou entrar no parque.

3.1 Entradas anteriores

O jovem já havia tentado acessar o recinto da leoa outras vezes. Sempre com a mesma ideia fixa: chegar perto do animal.
Em uma ocasião anterior, escalou parte da estrutura, mas foi impedido antes de conseguir entrar na área restrita.

3.2 A falha nos protocolos de segurança

No dia da tragédia, porém, Gerson:

  • escalou uma parede de mais de 6 metros;

  • ultrapassou grades de proteção;

  • usou uma árvore como apoio;

  • entrou no recinto da leoa sem ser interceptado.

Até o momento, o zoológico não esclareceu se havia:

  • vigilância suficiente,

  • monitoramento por câmeras,

  • barreiras efetivas,

  • funcionários próximos ao local.

A investigação deve verificar se houve negligência por parte da administração do parque.

4. O ataque fatal

Vídeo: homem morre após entrar em jaula de leoa em zoológico de João Pessoa - Farol da Bahia

Poucos minutos depois de entrar no recinto, o jovem foi atacado pela leoa. As equipes de resgate chegaram rápido, mas nada pôde ser feito.

Especialistas explicam que grandes felinos não distinguem seres humanos que entram em seu território: tratam todos como intrusos, ameaças ou presas.

5. A revolta da conselheira tutelar: um clamor por justiça

Verônica Oliveira, responsável por acompanhar Gerson durante quase uma década, fez um desabafo emocionado nas redes sociais, cobrando responsabilidade do Estado.

5.1 As falhas acumuladas

Ela afirma que:

  • foi ignorada quando pediu laudos psiquiátricos;

  • o jovem não recebeu tratamento adequado;

  • instituições de acolhimento não conseguiram oferecer estabilidade emocional;

  • o sistema falhou repetidamente com ele.

Para ela, a morte de Gerson não foi um acidente, mas uma tragédia anunciada.

6. O que esse caso revela sobre o Brasil?

A história de Gerson é mais do que um episódio isolado. Ela revela falhas profundas e sistêmicas na proteção de jovens vulneráveis.

6.1 O abandono institucional

O Brasil ainda enfrenta sérios problemas no atendimento a:

  • crianças abandonadas,

  • jovens com transtornos mentais,

  • famílias em extrema pobreza.

A falta de integração entre saúde mental, assistência social e educação cria uma rede cheia de buracos — e muitos caem por ela.

6.2 O estigma da saúde mental

Gerson é exemplo da dificuldade que jovens pobres enfrentam para receber diagnóstico e tratamento.
É comum que problemas psiquiátricos sejam confundidos com “má conduta” ou “rebeldia”.

6.3 A romantização de sonhos impossíveis

Sem apoio emocional ou acompanhamento psicológico, fantasias grandiosas podem se transformar em condutas perigosas — como ocorreu com o sonho de “domar leões”.

7. Legado de uma vida interrompida

A morte de Gerson gerou comoção nacional não apenas pelo impacto visual da tragédia, mas pelo simbolismo de sua história.

Ele representava:

  • Crianças esquecidas pelo sistema

  • Jovens marcados por traumas sem tratamento

  • Pessoas vulneráveis que não encontram amparo

  • A dor silenciosa de quem sonha sem limites, mas vive sem apoio

Sua morte reacende debates urgentes:

  • Como melhorar o atendimento psiquiátrico no Brasil?

  • Como acompanhar jovens que crescem em instituições de acolhimento?

  • Como equilibrar segurança de parques zoológicos e prevenção de invasões?

  • Quais responsabilidades o Estado tem sobre jovens com histórico de transtornos mentais não tratados?

Conclusão

Gerson de Melo Machado não foi apenas um jovem que entrou em uma jaula de leoa. Ele foi um menino abandonado, um adolescente que nunca recebeu o tratamento que precisava e um adulto jovem que carregava sonhos infantis misturados a traumas profundos.

Sua morte expõe a necessidade urgente de políticas públicas eficazes, acompanhamento psicológico adequado e uma rede de proteção que funcione de verdade.

Porque, no fim, a pergunta que fica não é apenas como ele entrou na jaula.
A pergunta é: como ele chegou até ali completamente sozinho?

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