Rapha: O equipamento brasileiro que promete revolucionar o tratamento do pé diabético e evitar milhares de amputações
Desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), o projeto Rapha combina tecnologia biomédica, luz LED e látex natural para regenerar tecidos e oferecer um tratamento acessível e inovador às feridas crônicas do pé diabético.
Um dos maiores desafios enfrentados pelos portadores de diabetes no Brasil é o chamado “pé diabético”, uma complicação que pode evoluir para infecções graves e amputações. Estima-se que cerca de 50 mil amputações sejam realizadas anualmente no país em decorrência desse problema. Mas um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) promete mudar esse cenário.
Coordenado pela professora e pesquisadora Suélia Rodrigues, especialista em engenharia biomédica e membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), o projeto batizado de Rapha desenvolveu um equipamento inovador que acelera a cicatrização e regeneração de tecidos afetados pelo pé diabético. O dispositivo, que deve chegar ao mercado ainda neste semestre após a aprovação da Anvisa, representa uma das maiores esperanças no combate às feridas crônicas e às amputações associadas à doença.
O nome “Rapha” é inspirado em São Rafael, o anjo da cura — um símbolo perfeito para um equipamento que une ciência, fé e tecnologia na busca por uma solução acessível e eficaz.

1. O problema do pé diabético no Brasil
O diabetes é uma condição crônica que afeta milhões de brasileiros. Quando não controlado, pode causar danos severos à circulação e aos nervos, especialmente nas extremidades, como os pés. O resultado é o aparecimento de úlceras, feridas abertas e infecções que, em muitos casos, não cicatrizam adequadamente.
Essas lesões, conhecidas como “pé diabético”, são uma das causas mais frequentes de internações hospitalares em pessoas com diabetes e, infelizmente, uma das principais razões para amputações no país.
Dados do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) revelam que cerca de 20% dos pacientes com pé diabético acabam sofrendo algum tipo de amputação. Além disso, o tratamento tradicional é caro e demorado, exigindo acompanhamento constante, curativos especiais e, muitas vezes, cirurgias complexas.
O impacto é não apenas médico, mas também social e econômico. Pacientes amputados frequentemente perdem a mobilidade, a autonomia e, em muitos casos, a capacidade de trabalhar, o que compromete a qualidade de vida e aumenta os custos para o sistema de saúde pública.
2. A origem do projeto Rapha
A história do Rapha começou há quase duas décadas, em 2005, quando a professora Suélia Rodrigues iniciou sua tese de doutorado na área de engenharia biomédica na Universidade de Brasília.
Durante suas pesquisas, ela investigava materiais naturais com potencial para regeneração tecidual. Foi então que um elemento tipicamente brasileiro chamou sua atenção: o látex extraído da seringueira. Estudos preliminares mostraram que o látex apresentava propriedades que estimulavam o crescimento celular e a cicatrização — um achado promissor para o desenvolvimento de curativos inteligentes.
Em 2009, o projeto foi oficialmente batizado de Rapha, em referência a São Rafael, o anjo da cura. Desde então, a iniciativa cresceu, recebeu apoio de instituições de pesquisa, financiamento de agências de inovação e, mais recentemente, firmou uma parceria com a empresa Life Care Medical, responsável pela fabricação e certificação do dispositivo.
O sucesso do projeto se deve à combinação de ciência e sensibilidade social. Como destaca Suélia, o objetivo sempre foi criar uma tecnologia eficaz, mas acessível, capaz de chegar a hospitais públicos, clínicas e até às casas dos pacientes.
“Descobrimos que o látex tem propriedades que estimulam a regeneração tecidual. Com o uso da luz LED, conseguimos potencializar esse efeito e criar um tratamento simples, seguro e eficaz”, explica a pesquisadora.
3. Como funciona o dispositivo Rapha

O equipamento Rapha é uma inovação de engenharia biomédica que combina biotecnologia e fototerapia. Ele é composto por lâminas de látex natural que funcionam como uma base flexível e confortável para o contato com a pele, integradas a emissores de luz LED.
a) O papel do látex
O látex natural, extraído da seringueira brasileira, é rico em bioativos que estimulam a produção de colágeno e elastina, elementos essenciais para a regeneração de tecidos. Além disso, o material é biocompatível, ou seja, não provoca rejeição ou irritação na pele, tornando o tratamento mais seguro e confortável.
b) A função da luz LED
Os emissores de luz LED atuam de forma semelhante à fototerapia, emitindo comprimentos de onda específicos que ativam processos biológicos nas células. Essa estimulação ajuda a melhorar a circulação local, reduzir inflamações e acelerar a cicatrização.
Diferentemente de outros tratamentos caros e invasivos, o Rapha pode ser utilizado em casa, sob orientação médica, facilitando o acompanhamento e reduzindo os custos hospitalares.
c) Segurança e usabilidade
O equipamento foi projetado para ser ergonômico, portátil e fácil de usar. Pode ser aplicado diretamente sobre a ferida e controlado por um pequeno painel eletrônico que ajusta a intensidade da luz. O dispositivo é silencioso, leve e reutilizável, com componentes de fácil reposição.
4. A fase de testes e resultados promissores
Antes de chegar ao mercado, o Rapha passou por diversas fases de teste clínico, realizadas em hospitais e centros de pesquisa.
Os resultados foram considerados surpreendentes: pacientes tratados com o dispositivo apresentaram redução significativa no tempo de cicatrização, menor incidência de infecção e menos necessidade de intervenções cirúrgicas.
Em alguns casos, a regeneração dos tecidos foi observada em menos da metade do tempo normalmente exigido pelos tratamentos convencionais. Além disso, os voluntários relataram menos dor e desconforto, o que representa um avanço importante em termos de qualidade de vida.
Com base nesses resultados, a Life Care Medical empresa parceira da UnB já obteve certificação do Inmetro e aguarda a aprovação final da Anvisa para iniciar a comercialização do produto ainda neste semestre.
5. Um avanço para a medicina e para a sociedade
Mais do que um avanço científico, o Rapha representa uma vitória social e econômica.
O equipamento foi desenvolvido com tecnologia nacional e matérias-primas brasileiras, valorizando a cadeia produtiva da borracha natural e gerando oportunidades para agricultores familiares envolvidos na extração do látex.
Segundo Suélia, o projeto também visa democratizar o acesso à saúde, permitindo que pessoas de baixa renda tenham acesso a um tratamento de alta tecnologia.
A médica Camille Rodrigues da Silva, responsável pela consultoria regulatória do projeto, destaca que o grande diferencial está na combinação entre eficiência e acessibilidade.
“A úlcera do pé diabético é a principal causa de amputação nessa população, e os tratamentos disponíveis são caros e pouco eficazes. O Rapha chega para democratizar o acesso a uma tecnologia capaz de transformar vidas”, afirma Camille.
6. Impactos econômicos e ambientais
Além de salvar vidas, o projeto Rapha tem potencial para gerar impactos positivos na economia e no meio ambiente.
O uso do látex natural fortalece a produção de seringueira, especialmente em regiões do Norte e Centro-Oeste do Brasil, incentivando práticas sustentáveis e reduzindo a dependência de materiais sintéticos importados.
A produção nacional também reduz os custos logísticos e de importação, tornando o equipamento mais acessível e competitivo. Estima-se que o preço final do Rapha será até 60% menor do que o de tecnologias similares disponíveis no mercado internacional.
7. O futuro do projeto: novas aplicações e expansão internacional
Com a consolidação do Rapha no mercado brasileiro, a equipe da UnB e a Life Care Medical já planejam novas aplicações da tecnologia.
Estudos estão em andamento para adaptar o dispositivo ao tratamento de queimaduras, feridas cirúrgicas e lesões por pressão (escaras) problemas comuns em pacientes acamados ou com mobilidade reduzida.
Além disso, há planos para expandir o uso do Rapha em outros países da América Latina, onde o diabetes também é uma preocupação crescente. A equipe já iniciou conversas com universidades e centros de pesquisa internacionais para validar o equipamento em contextos diferentes.
8. O simbolismo do nome “Rapha” e o poder da cura
O nome “Rapha”, inspirado em São Rafael, o anjo da cura, reflete não apenas o propósito médico do projeto, mas também sua dimensão humana e espiritual.
Para muitos pacientes, o tratamento do pé diabético não é apenas uma questão física, mas também emocional e psicológica. Viver com feridas crônicas pode causar isolamento, depressão e perda da autoestima.
Ao oferecer um tratamento eficaz, acessível e baseado em uma simbologia positiva, o Rapha também ajuda a restaurar a esperança algo que, como ressaltam os profissionais da saúde, é um componente essencial no processo de cura.
Conclusão: Um marco para a medicina brasileira
O projeto Rapha simboliza o que há de melhor na inovação científica brasileira: criatividade, empatia e compromisso social.
Desenvolvido por pesquisadores da UnB, apoiado por empresas nacionais e baseado em recursos naturais do país, o dispositivo não apenas revoluciona o tratamento do pé diabético, mas também reafirma o potencial do Brasil como referência em tecnologia médica acessível.
Com a aprovação da Anvisa e o início da produção em larga escala, o Rapha poderá salvar milhares de vidas todos os anos, evitando amputações e devolvendo a autonomia a pacientes que antes tinham poucas esperanças.
Em um país onde o diabetes continua a ser um dos maiores desafios de saúde pública, essa inovação representa uma luz no fim do túnel uma prova de que ciência, fé e solidariedade podem caminhar juntas em direção à cura.






