O retorno inesperado da fé: Jovens da Geração Z redescobrem a espiritualidade e voltam às igrejas nos Estados Unidos
Estudo do Barna Group revela que homens da Geração Z estão retornando às igrejas em números crescentes, desafiando a percepção de que os jovens modernos se afastaram da religião e apontando para um possível renascimento espiritual.
Durante anos, a Geração Z formada por jovens nascidos entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2010 — foi considerada a menos religiosa da história moderna. Pesquisas anteriores apontavam um afastamento generalizado da fé, uma preferência por espiritualidades alternativas e um ceticismo em relação às instituições tradicionais.
No entanto, um novo estudo do Barna Group, renomada instituição de pesquisa sobre fé e cultura, revelou um fenômeno surpreendente: os homens da Geração Z estão retornando às igrejas em números mais altos do que as gerações anteriores, especialmente os Millennials.
Essa tendência não apenas desafia os estereótipos sobre os jovens modernos, mas também sugere que há um revival espiritual silencioso acontecendo entre os mais novos — um movimento que busca propósito, comunidade e autenticidade em meio à era digital e à solidão emocional.
O fenômeno do retorno às igrejas: Um novo retrato da Geração Z

Segundo o Barna Group, os dados coletados entre 2023 e 2024 mostram que os homens da Geração Z estão frequentando cultos religiosos com mais regularidade do que os Millennials e a Geração X na mesma faixa etária.
Além disso, muitos desses jovens afirmam que a fé se tornou uma parte central de sua identidade — uma mudança marcante em relação à postura mais cética observada há apenas uma década.
Entre as principais razões desse retorno estão:
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Busca por sentido e propósito em um mundo cada vez mais superficial e saturado por redes sociais;
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Necessidade de pertencimento e comunidade, já que muitos jovens relatam sentimentos de isolamento;
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Desencanto com o excesso de tecnologia, o que os leva a procurar experiências humanas reais;
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Influência de líderes religiosos mais modernos e conectados, que utilizam redes sociais para atrair e dialogar com os jovens.
Homens em busca de estabilidade espiritual

Uma das conclusões mais marcantes do estudo é que os homens da Geração Z estão demonstrando maior interesse religioso do que as mulheres da mesma geração.
Enquanto o número de mulheres jovens que se afastam das igrejas aumenta, o de homens que retornam à fé cresce de forma consistente.
Pesquisadores acreditam que esse comportamento está ligado a questões emocionais e sociais mais amplas.
Homens jovens têm relatado maior solidão, insegurança e ansiedade, especialmente em um contexto onde modelos de masculinidade estão sendo rediscutidos.
Para muitos, a igreja reaparece como um espaço de acolhimento e direção moral, oferecendo uma base estável em tempos de incerteza.
O papel das redes sociais e da exaustão digital
A relação entre tecnologia e espiritualidade também aparece como um dos fatores decisivos nessa mudança de comportamento.
A Geração Z é a primeira a nascer totalmente imersa no ambiente digital — conectada 24 horas por dia, exposta a algoritmos que moldam preferências, opiniões e até relacionamentos.
Contudo, essa hiperconexão tem gerado fadiga emocional, depressão e crises de identidade.
Muitos jovens relatam sentir-se vazios e desorientados, mesmo estando constantemente “online”.
A religião, nesse contexto, surge como um refúgio contra o caos digital, um espaço onde é possível se desconectar do ruído e reconectar com algo maior.
Além disso, igrejas que se adaptaram à linguagem digital — com cultos transmitidos, comunidades online e líderes influenciadores — conseguiram atrair parte desse público, transformando as redes em ferramentas de evangelização.
O afastamento das mulheres jovens: uma contradição aparente
Enquanto os homens parecem redescobrir a fé, o mesmo estudo mostra que as mulheres da Geração Z estão se afastando das instituições religiosas em ritmo acelerado.
Entre as principais justificativas estão:
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Desconfiança nas estruturas patriarcais das igrejas;
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Percepção de falta de espaço para o protagonismo feminino;
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Conflito entre pautas progressistas (como igualdade de gênero e direitos reprodutivos) e as doutrinas tradicionais.
Essa diferença de comportamento entre homens e mulheres aponta para um rearranjo da religiosidade contemporânea, onde a fé deixa de ser apenas uma questão de tradição familiar e passa a ser uma escolha pessoal, crítica e consciente.
O aumento na leitura da Bíblia e nas vendas de livros religiosos
Outro dado curioso revelado pelo Barna Group é o crescimento expressivo na leitura da Bíblia entre os jovens americanos.
Mais de 20% dos homens da Geração Z afirmam ler as Escrituras com mais frequência, muitas vezes de forma independente, fora do ambiente de culto.
Paralelamente, as vendas de Bíblias aumentaram 22% em 2024, segundo relatórios do mercado editorial cristão dos Estados Unidos.
Esse aumento reflete não apenas um interesse renovado pela fé, mas também uma busca por compreensão espiritual fora das estruturas institucionais.
Muitos desses jovens estão reinterpretando a religião em seus próprios termos, combinando fé com ciência, espiritualidade com tecnologia e crença com senso crítico — algo impensável em gerações anteriores.
Um “revival silencioso”: o retorno da fé em tempos de incerteza
Especialistas chamam esse movimento de “revival silencioso”, pois não se manifesta em grandes eventos ou ondas de avivamento coletivo, mas em decisões pessoais e discretas de retorno à fé.
A espiritualidade da Geração Z tende a ser mais introspectiva, menos institucionalizada e mais ligada a experiências pessoais de propósito e identidade.
Esse renascimento espiritual é alimentado por:
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O vazio existencial gerado pela vida digital e pela cultura do desempenho;
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O colapso das referências morais e comunitárias tradicionais;
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A busca por transcendência em meio à crise de sentido global;
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O medo do futuro em um mundo de mudanças climáticas, instabilidade política e desastres tecnológicos.
Assim, muitos jovens estão voltando às igrejas não por tradição, mas por necessidade emocional e espiritual.
O impacto global: será o início de uma nova era religiosa?
O fenômeno observado nos Estados Unidos pode estar apenas começando.
Pesquisas semelhantes em países da Europa e América Latina já apontam sinais de retorno à fé entre jovens adultos, especialmente em tempos pós-pandemia.
A revalorização da espiritualidade seja dentro de igrejas ou em expressões pessoais indica que, mesmo em uma sociedade cada vez mais racional e científica, a necessidade humana de significado e esperança permanece intacta.
O desafio das instituições religiosas, entretanto, é acompanhar essa transformação, oferecendo um espaço inclusivo, moderno e acolhedor, onde as novas gerações possam dialogar, duvidar e crescer espiritualmente.
Conclusão: entre a fé e o futuro
O estudo do Barna Group desmonta um dos mitos mais difundidos sobre a juventude moderna: o de que a religião está morrendo.
Ao contrário, o que se observa é uma redefinição da espiritualidade, com jovens especialmente homens da Geração Z buscando na fé uma resposta às angústias do século XXI.
Em meio ao barulho das redes sociais, à solidão das telas e à fragmentação das relações humanas, a busca por Deus volta a ser um ato de resistência.
E talvez, nessa geração marcada por incertezas, o retorno à fé seja o primeiro passo para reconstruir não apenas a espiritualidade, mas também a própria humanidade.






