Padre Chrystian Shankar recusa batizar bonecas reborn e gera polêmica nacional
Declaração do sacerdote mineiro reacende debate sobre fé, saúde mental e os limites do afeto por bonecos hiper-realistas
Uma fala do padre Chrystian Shankar, da Diocese de Divinópolis (MG), gerou grande repercussão nas redes sociais e até no cenário político nacional. O sacerdote, conhecido por seu perfil ativo e direto nas mídias digitais, afirmou que não realizará batismos nem quaisquer sacramentos para bonecas reborn — brinquedos hiper-realistas que simulam bebês com impressionante fidelidade.
A recusa veio acompanhada de um comentário irônico, no qual o padre sugeriu que pedidos desse tipo deveriam ser encaminhados a psicólogos, psiquiatras ou, em último caso, ao fabricante da boneca. A postagem rapidamente viralizou, dividindo opiniões entre apoiadores do clérigo e críticos que acusaram o religioso de desrespeito e falta de empatia.
A recusa aos sacramentos e o apelo à razão
Em sua publicação, o padre Shankar enfatizou que os sacramentos da Igreja Católica são destinados a pessoas reais, com alma e dignidade humana, conforme a doutrina da fé. Por isso, não há base teológica ou pastoral que justifique a realização de ritos como o batismo em bonecas reborn.
O sacerdote, que conta com mais de 3,7 milhões de seguidores no Instagram, classificou os pedidos como um sinal de desequilíbrio emocional e reforçou a importância de acompanhamento profissional para quem apresenta esse tipo de demanda. A forma direta — e sarcástica — com que se pronunciou, no entanto, gerou reações acaloradas.
Repercussão nas redes sociais: Entre memes e aplausos
A publicação do padre teve grande repercussão. Foram mais de 300 mil curtidas e milhares de comentários em poucas horas. Alguns internautas reagiram com bom humor, criando memes e paródias. Frases como “Padre, pare! Rebornfobia não pode” e “O senhor está sempre coberto de razão” viralizaram entre apoiadores e críticos.
Enquanto muitos elogiaram a firmeza do sacerdote em manter os sacramentos restritos a seres humanos, outros viram na atitude uma falta de sensibilidade com pessoas que, por motivos emocionais, desenvolvem vínculos com as bonecas reborn — muitas vezes utilizadas para fins terapêuticos, inclusive no luto materno.
Do altar ao Congresso: O debate chega à esfera política
O caso ultrapassou os limites da internet e chegou ao Congresso Nacional. Parlamentares apresentaram projetos de lei para regulamentar o uso das bonecas reborn, com propostas que incluem a proibição de atendimentos clínicos simulados com os bonecos, além da aplicação de sanções para quem tentar usá-los para obter benefícios sociais destinados a crianças reais.
A discussão agora envolve questões como limites do afeto simbólico, uso de bonecos em contextos terapêuticos, e possíveis abusos. Também reacende o debate sobre o papel da religião diante de fenômenos sociais contemporâneos e a delicada linha entre cuidado pastoral e opinião pública.
Fé, saúde mental e simbologia: Onde estão os limites?
As bonecas reborn surgiram inicialmente como itens de colecionadores, mas ao longo dos anos passaram a ser usadas como objetos terapêuticos. Em alguns casos, mulheres que sofreram abortos espontâneos ou perdas neonatais recorrem a essas bonecas para amenizar o luto — o que levanta questões sobre psicologia, espiritualidade e necessidade de acolhimento.
Enquanto a Igreja Católica mantém a posição de que sacramentos são exclusivos para seres humanos, muitos especialistas alertam para a necessidade de equilíbrio no discurso religioso, especialmente quando envolve pessoas emocionalmente fragilizadas.
Conclusão
A recusa do padre Chrystian Shankar em batizar bonecas reborn trouxe à tona uma discussão complexa e multifacetada, que vai muito além de um simples post nas redes sociais. A polêmica envolve religião, saúde mental, vínculos simbólicos e os limites do afeto na era da hiper-realidade. Mais do que buscar culpados, o episódio evidencia a importância de diálogos sensíveis, fundamentados e respeitosos — tanto na fé quanto na vida pública.