Desejos de Grávida: Por Que São Tão Estranhos?
Do desejo por sabão ao apetite por picles com sorvete, os desejos alimentares na gravidez sempre despertaram curiosidade. Mas o que está por trás dessas vontades incomuns? Neste artigo, exploramos as razões fisiológicas, hormonais, psicológicas e culturais dos desejos mais curiosos da gestação.
Você já ouviu alguma história curiosa de uma gestante que acordou no meio da noite com desejo incontrolável de comer manga verde com sal ou que chorou porque não encontrou pão com mortadela? Esses relatos fazem parte do imaginário coletivo sobre gravidez e não são apenas folclore. Os desejos alimentares estranhos durante a gestação são reais e amplamente documentados pela ciência, ainda que suas causas exatas permaneçam envoltas em mistério.
De forma geral, quase 90% das grávidas relatam ter algum tipo de desejo alimentar durante a gestação. E embora alguns deles sejam comuns como o desejo por doces, frutas cítricas ou comidas salgadas , outros beiram o bizarro: gelo, terra, giz, sabão, carvão e até gasolina são registrados em relatos médicos. Por que isso acontece?
Vamos analisar o papel dos hormônios, das deficiências nutricionais, da psicologia, da cultura e até mesmo da evolução na formação dessas vontades aparentemente irracionais. Também veremos quais desejos devem ser respeitados, quais podem sinalizar problemas de saúde e como lidar com essas vontades de forma equilibrada.
O Que São os Desejos de Gravidez?
Desejos de gravidez são vontades súbitas, intensas e específicas de consumir determinado alimento — ou, em casos extremos, substâncias não comestíveis — durante a gestação. Tais desejos costumam surgir principalmente no primeiro e segundo trimestres, mas podem acontecer durante toda a gravidez.
Frequência
Pesquisas apontam que entre 50% e 90% das gestantes relatam desejos alimentares. Embora sua intensidade varie de pessoa para pessoa, a maioria das mulheres reconhece ter vivido pelo menos uma experiência inusitada durante a gestação.
Causas Fisiológicas: O Corpo em Transformação
Durante a gravidez, os níveis hormonais da mulher mudam drasticamente. Dois hormônios estão especialmente relacionados aos desejos alimentares:
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Progesterona: Aumenta o apetite e pode alterar o paladar.
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Estrogênio: Afeta o olfato e o gosto, deixando as gestantes mais sensíveis a certos odores e sabores.
Essas alterações hormonais podem causar:
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Rejeição a alimentos antes considerados agradáveis;
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Atração por sabores fortes ou extremos (muito doce, muito salgado);
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Vontade súbita por alimentos específicos ou incomuns.
Deficiências Nutricionais
Outro fator que pode influenciar os desejos é a carência de certos nutrientes:
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Desejo por carne ou feijão preto pode indicar falta de ferro;
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Vontade de comer gelo pode estar ligada à anemia;
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Apetite por frutas cítricas pode indicar necessidade de vitamina C.
Em casos mais extremos, o corpo pode tentar “compensar” deficiências por meio do desejo por substâncias não alimentares, o que leva ao transtorno conhecido como pica (ver seção 5).
O Fator Psicológico: Emoções e Vínculos Afetivos
A gestação é um período de intensa transformação emocional. A futura mãe experimenta:
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Ansiedade pelo futuro;
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Alterações de humor frequentes;
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Sensibilidade a estímulos externos;
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Necessidade de conforto e segurança.
Essas emoções podem ser traduzidas em desejos por alimentos afetivos, como comidas da infância ou pratos típicos da região de origem.
O Alimento Como Recompensa
Durante a gravidez, a mulher costuma receber mais permissividade social para “se permitir”. Isso pode levar a:
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Uso da comida como forma de recompensa ou consolo;
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Busca por sensações prazerosas em meio às incertezas da maternidade;
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Associação entre desejo e alívio emocional imediato.
Cultura e Tradições: Desejos que Também São Sociais
Os desejos não são universais. Eles variam muito de acordo com a cultura, o clima e os alimentos disponíveis:
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No Brasil, é comum ouvir relatos de desejo por manga verde, jaca, açaí ou pamonha;
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Nos Estados Unidos, muitas grávidas desejam picles com sorvete;
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No Japão, há registros de desejo por arroz glutinoso frio ou natto (soja fermentada);
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Em países africanos, mulheres podem desejar argila ou terra.
O Papel da Narrativa Popular
Em muitas culturas, os desejos são vistos como “sagrados” e devem ser atendidos para evitar consequências. Há superstições que afirmam que negar um desejo de grávida pode causar manchas no bebê ou deixá-lo com traços do alimento desejado.
Quando os Desejos Saem do Normal: O Transtorno Pica
O Que é Pica?
Pica é um distúrbio alimentar caracterizado pelo desejo e consumo de substâncias não comestíveis, como:
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Terra
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Gelo
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Giz
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Sabão
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Cabelo
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Tinta
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Moedas
É mais comum em mulheres grávidas e crianças pequenas, e pode estar relacionado à anemia, deficiência de ferro, estresse ou transtornos mentais.
Riscos Envolvidos
O consumo desses itens pode causar:
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Intoxicação
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Obstrução intestinal
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Infecções
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Envenenamento por metais pesados
Por isso, o acompanhamento médico é essencial quando esses desejos aparecem.
Desejos Mais Comuns e Mais Estranhos: Um Top 10
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Chocolate
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Picles
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Frutas cítricas
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Gelo
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Doces em geral
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Pão com manteiga
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Sorvete
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Refrigerante
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Feijão
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Arroz com ovo
Desejos Incomuns (Relatos Reais)
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Sabão em pó
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Tinta de parede
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Terra molhada
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Tijolo
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Cenoura crua com ketchup
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Pepino com mel
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Leite condensado com sardinha
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Pasta de dente
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Bacon cru
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Churrasco com sorvete
Quando Atender os Desejos?
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Se o desejo for por alimentos saudáveis, não há problema em satisfazê-lo.
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Se for por alimentos industrializados ou hipercalóricos, recomenda-se moderação.
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Desejos por substâncias não comestíveis devem ser comunicados ao médico.
Estratégias Saudáveis
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Comer de 3 em 3 horas para evitar picos de fome;
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Manter uma alimentação variada, rica em frutas, vegetais e proteínas;
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Beber bastante água;
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Fazer acompanhamento nutricional com profissional especializado.
O Que Diz a Ciência?
Pesquisas sobre desejos na gravidez ainda são limitadas, mas alguns estudos destacam:
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Um artigo da revista Appetite (2014) revelou que o desejo por doces durante a gestação está ligado ao aumento da dopamina no cérebro materno;
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Um estudo da University of Albany sugeriu que o desejo por alimentos não nutritivos pode estar relacionado à pressão cultural e não necessariamente à necessidade biológica;
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Outra pesquisa publicada na Journal of Nutrition indicou que desejos por gelo (pagofagia) estavam fortemente associados à deficiência de ferro.
Hipóteses Evolutivas
Alguns cientistas propõem que os desejos podem ter evoluído como uma forma de proteger o feto:
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Rejeição a alimentos amargos poderia evitar ingestão de toxinas;
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Desejo por frutas e legumes pode garantir nutrientes essenciais;
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Vontade de comer substâncias como barro poderia, em certas culturas, ajudar a absorver toxinas do intestino (uma hipótese ainda em debate).
Curiosidades Históricas e Populares
Em registros da Grécia Antiga e do Egito, já se mencionavam desejos curiosos durante a gravidez. Alguns manuscritos egípcios associavam os desejos a “mensagens divinas” sobre a alma do bebê.
No Folclore Brasileiro
Há inúmeras lendas sobre desejos negados que teriam causado consequências para o bebê: marcas de nascença, dentes tortos ou até formato de alimentos no corpo.
Conclusão
Os desejos na gravidez são muito mais do que simples vontades alimentares. Eles expressam uma complexa rede de mudanças hormonais, carências nutricionais, estados emocionais e influências culturais. Às vezes, o corpo realmente precisa de algo. Outras vezes, é a mente que busca conforto em um momento de intensa transformação.
Entender esses desejos com empatia, ciência e cuidado é fundamental para que a gestante se sinta acolhida sem culpa, mas também com consciência. Afinal, não é só o bebê que está em formação: a própria mulher está se reinventando como mãe. E, nessa jornada, até os desejos mais estranhos podem ter um significado profundo.