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Bebês Reborn: Arte, terapia ou sinal de alerta?

Fenômeno dos bonecos hiper-realistas desperta fascínio, acolhimento e também preocupação entre especialistas em saúde mental

Com feições delicadas, peles texturizadas, cabelos implantados fio a fio e roupas de recém-nascido, os bebês reborn ultrapassaram os limites do brinquedo convencional e conquistaram espaço no imaginário de milhares de pessoas ao redor do mundo. O que começou como uma forma de arte colecionável virou um verdadeiro fenômeno nas redes sociais, em grupos terapêuticos e até mesmo no sistema de saúde. No entanto, a linha tênue entre o uso simbólico e o escapismo emocional tem gerado alertas entre profissionais da saúde mental.

A assustadora e patética moda dos bebês reborn. Por Nathalí

O que são os bebês reborn?

Bebês reborn: carinho, terapia ou fuga da realidade?

Os bebês reborn são bonecos produzidos com materiais e técnicas que buscam imitar com perfeição recém-nascidos reais. Feitos em silicone ou vinil, eles podem pesar o mesmo que um bebê de verdade, exalam cheiro de talco, simulam batimentos cardíacos e, em alguns casos, até imitam respiração. A confecção artesanal, muitas vezes realizada por artistas especializados, eleva esses bonecos ao status de obras de arte — alguns chegam a custar milhares de reais.

Arte, passatempo ou terapia?

Se você é mãe de bebê reborn a psicologia vai revelar algo sobre você

Para muitas pessoas, especialmente mulheres, os bebês reborn funcionam como hobby, expressão artística ou forma de conforto emocional. Alguns pais enlutados ou pessoas com histórico de infertilidade, por exemplo, encontram nos reborns uma maneira de lidar com a dor de uma perda. Em lares de idosos e instituições geriátricas, eles são usados como instrumentos terapêuticos para pacientes com Alzheimer ou demência, promovendo bem-estar, afeto e lembranças.

“Eles podem reduzir a ansiedade e estimular vínculos afetivos em pacientes idosos, como parte de uma estratégia de cuidados integrativos”, explica a geriatra Sandra Lima.

O risco do apego excessivo

Mercado dos bebês reborn geram renda e traz de volta o universo lúdico aos pequenos e adultos - A Crítica de Campo Grande

Contudo, especialistas em saúde mental alertam que, quando o reborn passa a ocupar o lugar de um bebê real, os riscos emocionais aumentam. Há casos documentados em que indivíduos alimentam os bonecos com mamadeiras, levam para passear em carrinhos, trocam fraldas e até procuram atendimento médico público para os reborns.

Segundo a psicóloga clínica Juliana Correia, esse comportamento pode estar relacionado a:

  • Luto não elaborado

  • Transtornos de apego

  • Transtornos dissociativos

  • Solidão extrema

“Quando o boneco deixa de ser um símbolo afetivo e passa a ser confundido com a realidade, é necessário cuidado. Isso pode indicar uma dificuldade de elaborar perdas ou manter vínculos reais com outras pessoas”, afirma a profissional.

O limite entre conforto e ilusão

A linha entre o uso simbólico saudável e o escapismo psicológico pode ser muito tênue. O problema não está no reborn em si, mas no modo como ele é integrado à vida do indivíduo. Se o boneco passa a substituir relações sociais, isola o usuário ou interfere em suas responsabilidades e percepção do mundo, pode ser sintoma de desequilíbrio emocional.

Nesses casos, psicólogos recomendam que familiares estejam atentos e, se necessário, incentivem o acompanhamento profissional. “O uso terapêutico só é eficaz quando acompanhado por profissionais capacitados, e dentro de um contexto de apoio emocional real”, complementa Juliana Correia.

Entre o amor e o alerta

Os bebês reborn são, sem dúvida, expressões complexas da sensibilidade humana — misturam arte, afeto, memória e até espiritualidade. Mas como todo instrumento simbólico, seu uso requer equilíbrio. Em um mundo marcado pela hiperconexão e, ao mesmo tempo, pela solidão, eles revelam tanto o desejo por afeto quanto a fragilidade emocional de muitas pessoas.

Cabe à sociedade, aos profissionais da saúde e às famílias observarem com empatia, mas também com responsabilidade, quando o reborn representa acolhimento — e quando se torna um grito por ajuda.

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