Banco Central do Brasil inicia retirada definitiva das cédulas da “primeira família” do Real — entenda o que muda
Trinta e um anos após o lançamento do Real, as notas emitidas no início do plano monetário começam a ser recolhidas dos bancos em um processo gradual — mas continuam válidas para uso cotidiano.
Desde dezembro de 2025, o Banco Central do Brasil (BC) deu início a um marco simbólico e operacional importante para a história da economia brasileira: a retirada definitiva das cédulas da chamada “primeira família” do Real, lançadas em 1994 com a implementação do Plano Real. A determinação, publicada no Diário Oficial da União, orienta que as instituições financeiras recolham essas notas sempre que elas forem movimentadas — seja em depósitos, pagamentos ou outras transações cotidianas. Apesar de a remoção gradual tornar essas cédulas cada vez mais raras no dia a dia, o BC garante que elas continuam valendo normalmente: não há prazo de validade nem necessidade de troca imediata para os cidadãos. Neste artigo, exploramos o contexto histórico, os motivos da decisão, os impactos práticos para a população, e o que esperar nos próximos anos desse processo que marca o fim de uma era monetária no Brasil.

O nascimento da primeira família do Real — 1994
Para compreender a relevância dessa retirada, é necessário voltar no tempo até julho de 1994, quando o Plano Real foi implementado para estabilizar a economia brasileira após longos períodos de hiperinflação. Como parte desse plano, foi lançada uma nova moeda: o Real.
Com ele, vieram as primeiras cédulas da nova moeda — a chamada “primeira família do Real”. Essas cédulas vinham em diversos valores: inicialmente 1, 2, 5, 10, 20, 50, 100 reais, além de uma nota comemorativa de R$ 10 em polímero, lançada em 2000 para marcar os 500 anos do Descobrimento do Brasil. As notas da primeira família ficaram por décadas como o principal meio físico de pagamento no país — uma convivência com as transformações econômicas, sociais e tecnológicas que marcaram o Brasil nas últimas três décadas.
A segunda família do Real e o início da transição

Em 2010, o BC lançou a “segunda família do Real” — uma nova série de cédulas com redesign completo, tamanhos diferentes conforme o valor, e com elementos de segurança modernizados. O lançamento visava dar mais segurança contra falsificações e facilitar o manuseio em um mundo cada vez mais automatizado.
A partir dali, o país passou a conviver com as duas famílias de notas: a antiga e a nova. Por um tempo, ambas circularam juntas. Porém, com o passar dos anos, tornou-se evidente o desgaste das cédulas da primeira família — muitas com rasgos, desbotadas ou com marcas que dificultavam a leitura dos dispositivos de segurança.
Com isso, havia um crescente consenso de que era tempo de aposentar definitivamente as cédulas mais antigas.
Por que o Banco Central decidiu recolher as notas antigas?
Modernização e segurança do papel-moeda
O principal motivo da decisão do BC é técnico: as notas da primeira família, com mais de 30 anos em circulação, acumulam desgaste natural que compromete a integridade física e torna mais difícil verificar os elementos de segurança — marcas d’água, microimpressões, sinais gráficos antifalsificação. Mantê-las em circulação eleva o risco de fraudes e torna mais trabalhosa a autenticação do papel-moeda.
Além disso, os modelos antigos têm tamanho único para todos os valores, o que complica o uso em sistemas automatizados como caixas eletrônicos, máquinas de autoatendimento e logística bancária. A padronização com a segunda família facilita a operação, reduz custos e melhora a eficiência.
Custo operacional e padronização
Manter circulando duas gerações distintas de cédulas implica em adaptações constantes no sistema financeiro e varejista. Para simplificar esta gestão e diminuir o custo operacional, o BC decidiu que era hora de consolidar a segunda família como a norma dominante, recolhendo gradualmente as notas antigas.
Estado de conservação comprometido
Muitas das cédulas da primeira geração estavam visivelmente deterioradas — rasgos, dobras, desbotamento, áreas com marcas de uso intenso. Isso dificulta tanto o manuseio quanto a identificação de autenticidade, além de tornar a cédula menos durável. O recolhimento gradual evita que notas danificadas sigam circulando indefinidamente.
Como será o recolhimento — o que muda na prática
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A retirada será gradual e silenciosa, sem campanhas públicas de troca ou obrigatoriedade de entrega por parte da população.
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Sempre que uma nota da primeira família for apresentada num banco — em depósitos, pagamentos, trocas, saques ou compensações — ela será retida e substituída por uma nota da segunda família.
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As notas antigas continuam válidas e têm valor legal. Ou seja, nada altera para quem as possui: podem ser usadas normalmente para compras ou pagamentos.
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Não há prazo final divulgado para que a população entregue ou troque as notas — a ideia não é invalidá-las, mas naturalizar a transição.
Em resumo: para o cidadão comum, nada muda de imediato. Com o tempo, no entanto, serão cada vez mais raras as notas antigas em circulação.
Impactos práticos para a população
Sem necessidade de correria ou troca imediata
Como as cédulas antigas continuam válidas, não há urgência para trocá-las. Quem tiver alguma guardada pode usá-la normalmente — ou entregá-la em um banco se preferir. Não há prazo final para isso.
Redução de risco de falsificação
Com menos peças antigas em circulação, haverá menor chance de circulação de cédulas deterioradas ou falsificadas — o que beneficia tanto consumidores quanto comerciantes. A padronização com notas mais modernas facilita a segurança.
Valor sentimental ou numismático
Para colecionadores e entusiastas de numismática, as cédulas da primeira família passam a ter ainda mais valor simbólico. Com o tempo, algumas notas bem preservadas podem se tornar peças de valor histórico e de colecionador. Como apontam especialistas da área, pode haver valorização dependendo do estado de conservação.
Transição imperceptível no dia a dia
Para a grande maioria dos brasileiros, o processo será praticamente invisível: nos mercados, lojas, padarias, nada muda de imediato. A novidade será sentida apenas pelos colecionadores ou em caixas eletrônicos/caixas bancárias, onde as notas antigas serão retidas.
Consequências para bancos, comércio e sistema financeiro
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Os bancos terão menor custo operacional, já que lidarão com um único padrão de cédulas.
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Caixas eletrônicos, ATMs, máquinas de autoatendimento e sistemas de pagamento terão maior padronização — menos retrabalhos para adaptar diferentes tamanhos e tipos de nota.
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Para o comércio, a operação tende a ser mais ágil e segura: menos nota velha, menos risco de falsificação, menos problemas de leitura de marcas de segurança.
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Para o sistema como um todo, a padronização representa um avanço rumo à modernização da circulação de dinheiro físico, alinhando-se com padrões internacionais de segurança e eficiência.
Por que agora? O contexto da decisão
Esse processo de recolhimento não surgiu por acaso: ele coincide com o ciclo de 30 anos da introdução do Real em 1994. A data simbólica propícia — três décadas depois — reforça a ideia de que é um ponto de virada: aquela “primeira geração” de notas concluiu seu ciclo natural.
Além disso, os avanços tecnológicos — tanto na falsificação quanto na produção de papel-moeda — exigem cédulas cada vez mais seguras. A coexistência de notas antigas e novas gera dificuldades para manutenção da qualidade e segurança da circulação.
Por fim, há um fator prático: o desgaste natural das cédulas, que dificulta a manutenção de um meio físico de pagamento eficiente. Substituí-las gradualmente por um padrão mais moderno representa economia e praticidade para todo o sistema.
O que não vai mudar
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As cédulas antigas continuam legais — você pode usá-las normalmente.
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Não haverá obrigatoriedade de levar cédulas aos bancos ou trocar por novas. A retirada ocorre conforme o dinheiro circular.
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O valor facial das notas permanece o mesmo; não há desvalorização ou penalidade monetária.
O simbolismo de um fim de era
Mais do que uma mudança operacional, a retirada da primeira família de cédulas do Real representa o encerramento de um ciclo histórico. Essas notas foram parte fundamental da consolidação da moeda e da estabilização da economia brasileira no pós-hiperinflação. Elas circularam por décadas, testemunharam transformações sociais, crises, planos, avanços e retrocessos. Agora, deixam de ser o rosto visível do dinheiro no dia a dia.
Para muitos brasileiros, especialmente aqueles que cresceram nos anos 1990 e 2000, as cédulas antigas carregam memórias — dos primeiros salários, das economias guardadas em carteira, das compras de pão, do café da manhã, da mesada. O recolhimento marca o fim de uma familiaridade cotidiana; mas também simboliza a modernização de um sistema que precisa acompanhar o tempo.
Para historiadores, colecionadores e entusiastas da numismática, as notas da primeira família passam a ser parte de um patrimônio simbólico: peças que marcaram uma virada econômica e social do país.
E para o cidadão comum: a expectativa de um dinheiro mais seguro, confiável e compatível com a modernidade.
Considerações finais
A decisão do Banco Central de recolher gradualmente as cédulas da primeira família do Real é, em muitos aspectos, natural e inevitável. Não se trata de negar o passado — mas de reconhecer os limites de uma tecnologia antiga e favorecer um sistema mais seguro, eficiente e padronizado.
Para os brasileiros, a transição é tranquila: nada muda de imediato nas compras, pagamentos ou no uso do dinheiro. As cédulas continuam válidas, e o processo de retirada será silencioso.
Mas simbolicamente, representa o fim de uma era — a era das primeiras notas do Real, que por décadas foram companheiras de milhões de brasileiros.
Ainda assim, o Real permanece, intacto em seu valor e em sua função. E a segunda família de notas segue como a cara do dinheiro em circulação no Brasil dos próximos anos.






