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Anvisa proíbe substâncias usadas em unhas em gel após alerta sobre risco de câncer e infertilidad

Os compostos TPO e DMPT, presentes em esmaltes e produtos para unhas que utilizam luz UV ou LED, foram banidos pela Anvisa após evidências de toxicidade reprodutiva e potencial carcinogênico. A decisão segue recomendações internacionais e reacende o debate sobre segurança cosmética no Brasil.

A beleza pode ter um preço alto — e, em alguns casos, perigoso. Nesta quarta-feira (29), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma resolução que proíbe o uso das substâncias TPO (óxido de difenil fosfina) e DMPT (dimetiltolilamina) em produtos cosméticos e de higiene pessoal, como esmaltes, unhas em gel e produtos fotopolimerizáveis.

Esses compostos são amplamente utilizados em técnicas de alongamento e esmaltação em gel, que dependem da luz ultravioleta (UV) ou LED para endurecer e fixar o produto nas unhas. No entanto, estudos recentes indicaram que tais substâncias podem causar infertilidade e estão associadas ao desenvolvimento de câncer.

A decisão da Anvisa segue uma tendência internacional, especialmente após a União Europeia ter banido os mesmos compostos por motivos semelhantes. A medida marca um importante passo na proteção da saúde dos consumidores brasileiros e levanta questionamentos sobre o uso de químicos potencialmente nocivos na indústria da beleza.

Anvisa proíbe duas substâncias usadas em esmaltes e unhas em gel por risco à saúde

1. O que motivou a proibição

A Anvisa explicou que a proibição foi baseada em avaliações toxicológicas recentes, realizadas por agências internacionais e centros de pesquisa em segurança química.

O TPO (óxido de difenil fosfina) é uma substância usada como fotoiniciador, ou seja, é o componente que reage à luz UV ou LED para endurecer o gel ou esmalte. Porém, análises demonstraram que o TPO interfere na função reprodutiva, podendo causar infertilidade e danos ao sistema hormonal.

Já o DMPT (dimetiltolilamina) é um acelerador de cura — outra substância que participa do processo de secagem rápida. Pesquisas indicaram que ela pode causar mutações celulares e é considerada potencialmente cancerígena.

A Anvisa classificou os riscos como “inaceitáveis para uso cosmético”, uma vez que o contato frequente e prolongado, especialmente em manicures e profissionais de estética, pode representar exposição crônica a esses agentes tóxicos.

2. Como as substâncias atuam nas unhas em gel

Anvisa proíbe duas substâncias presentes em unhas de gel | Veja Saúde

O sucesso das unhas em gel e acrílicas deve-se à tecnologia de fotopolimerização, um processo químico em que o produto líquido se solidifica sob luz ultravioleta (UV) ou LED.

Nesse processo, fotoiniciadores como o TPO e o DMPT absorvem a luz e iniciam reações químicas que transformam o gel em uma camada sólida, resistente e brilhante.

Essa técnica revolucionou o setor de beleza, tornando as unhas mais duradouras e resistentes à quebra. No entanto, o uso frequente dessas substâncias expõe consumidores e profissionais a radiação ultravioleta e compostos químicos reativos, com potenciais consequências à saúde.

Segundo especialistas, o problema é que parte dos compostos não polimerizados — ou seja, não totalmente curados — pode permanecer na superfície da unha e entrar em contato direto com a pele, sendo absorvida pelo organismo.

Essa exposição contínua aumenta os riscos de alergias, alterações hormonais e efeitos mutagênicos.

3. O posicionamento da Anvisa e os impactos imediatos

A resolução publicada no Diário Oficial da União determina que nenhum produto cosmético, de higiene pessoal ou perfume que contenha TPO ou DMPT poderá ser fabricado, importado, distribuído ou comercializado no Brasil.

As empresas terão um prazo de adequação para reformular suas fórmulas e retirar os itens do mercado, sob pena de multa e recolhimento compulsório.

Em nota, a Anvisa afirmou:

“A medida visa proteger a saúde dos consumidores brasileiros, considerando as evidências científicas de toxicidade reprodutiva e carcinogenicidade das substâncias TPO e DMPT. A decisão está alinhada com padrões internacionais de segurança cosmética.”

Com isso, fabricantes e salões de beleza precisarão revisar todos os produtos fotopolimerizáveis — incluindo bases, top coats, esmaltes em gel, colas e resinas utilizadas em alongamentos e unhas postiças.

4. O contexto internacional: Europa à frente da segurança cosmética

A União Europeia, considerada referência mundial em regulação de cosméticos, já havia banido o uso de TPO e DMPT em 2023, após análises conduzidas pelo Comitê Científico de Segurança dos Consumidores (SCCS).

O SCCS concluiu que o TPO é tóxico para a reprodução e pode afetar o desenvolvimento embrionário e a fertilidade masculina e feminina. O DMPT, por sua vez, foi classificado como substância de categoria 1B, ou seja, presumidamente carcinogênica para humanos com base em estudos laboratoriais.

Essas conclusões levaram à remoção obrigatória dos compostos de todos os cosméticos vendidos na União Europeia, incluindo produtos importados.

Agora, com a decisão da Anvisa, o Brasil se junta a um grupo crescente de países que reforçam a fiscalização sobre os químicos usados na indústria da beleza, priorizando a segurança sobre a estética.

5. Reações da indústria de cosméticos e salões de beleza

A decisão da Anvisa gerou repercussão imediata entre fabricantes, manicures e salões de beleza.

Enquanto alguns elogiaram a medida, reconhecendo a importância da saúde e segurança dos profissionais, outros manifestaram preocupação com os impactos econômicos e a escassez temporária de produtos alternativos.

Empresas de cosméticos afirmam que já estão investindo em pesquisas e substitutos seguros, como fotoiniciadores baseados em ésteres orgânicos e tecnologias livres de aminas aromáticas, que não apresentam os mesmos riscos à saúde.

No entanto, reformular produtos pode levar meses de testes e certificações, o que deve provocar atrasos e aumento de custos.

Profissionais do setor também se preocupam com a falta de informação sobre quais produtos contêm as substâncias banidas, já que muitas marcas não especificam todos os componentes químicos nas embalagens.

6. O risco da exposição química em profissionais de beleza

As manicures e esteticistas estão entre os grupos mais vulneráveis à exposição contínua dessas substâncias.

Em um ambiente de salão, a aplicação de unhas em gel envolve contato direto e repetido com produtos químicos, inalação de vapores e exposição prolongada à radiação UV.

Estudos indicam que a absorção cutânea de compostos como TPO e DMPT pode ocorrer facilmente através de pequenas lesões na pele ou das cutículas. Com o tempo, essa exposição repetida aumenta o risco de alterações celulares e hormonais.

Além dos efeitos de longo prazo, há também o risco imediato de alergias e irritações, que podem se manifestar como vermelhidão, coceira, descamação e dermatite de contato — sintomas cada vez mais relatados por profissionais do setor.

Especialistas alertam que o uso de luvas adequadas, máscaras e ventilação apropriada deve ser obrigatório, mesmo após a substituição dos produtos.

7. Alternativas seguras e o futuro das unhas em gel

Apesar da proibição, o mercado de beleza não ficará desamparado. A indústria já vem desenvolvendo novas formulações de esmaltes e géis com fotoiniciadores não tóxicos, capazes de oferecer o mesmo brilho e durabilidade, mas sem riscos à saúde.

Entre as opções seguras estão compostos como:

  • BAPO (bisacylphosphine oxide) – considerado menos tóxico e amplamente aceito em mercados europeus;

  • TPOL (trimethylbenzoyl diphenylphosphine oxide) – alternativa que substitui o TPO em algumas formulações sem perder eficiência;

  • Fotoiniciadores orgânicos derivados de aminoácidos e polímeros naturais, que reduzem significativamente o risco de absorção cutânea.

Essas tecnologias prometem inaugurar uma nova era de segurança cosmética, em que a busca pela beleza não compromete a saúde de quem aplica nem de quem usa.

8. A importância da transparência nos rótulos

A decisão da Anvisa também reacende o debate sobre a transparência das fórmulas cosméticas.

Muitos produtos de beleza, especialmente os importados, não informam de forma clara todos os ingredientes químicos, dificultando a escolha consciente dos consumidores.

Entidades como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) têm pressionado por rotulagem mais detalhada e campanhas educativas que ajudem os consumidores a identificar substâncias potencialmente nocivas.

“O consumidor brasileiro precisa saber o que está passando na pele e nas unhas. É uma questão de saúde pública e de direito à informação”, afirma o Idec em nota.

9. Beleza consciente: Uma tendência global

O movimento da beleza limpa (clean beauty) vem ganhando força em todo o mundo. Ele prega o uso de cosméticos livres de toxinas, crueldade animal e componentes prejudiciais ao meio ambiente.

A decisão da Anvisa está em sintonia com essa tendência, reforçando o compromisso com a segurança e sustentabilidade.

Grandes marcas já estão investindo em pesquisa de ingredientes naturais, embalagens ecológicas e produtos veganos. No setor de unhas, cresce a popularidade de esmaltes “10-free” ou “15-free”, livres de formaldeído, tolueno, cânfora e outros químicos controversos.

Essa transição representa não apenas uma mudança de paradigma na indústria da beleza, mas também um avanço na consciência coletiva sobre o impacto dos produtos que usamos diariamente.

Conclusão: Segurança acima da estética

A decisão da Anvisa de proibir o TPO e o DMPT em produtos cosméticos é mais do que uma medida técnica — é um marco na proteção da saúde pública e na responsabilidade da indústria da beleza.

O alerta serve para lembrar que a busca por unhas perfeitas não deve custar a segurança nem a fertilidade das pessoas. A beleza, afinal, precisa caminhar lado a lado com a ciência e o bom senso.

Com a proibição, o Brasil se alinha às normas internacionais mais rigorosas e reforça a importância de uma beleza consciente, ética e segura — um passo essencial rumo a um futuro em que autoestima e saúde andem juntas.

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