Imagens de drones revelam corpos enfileirados na Penha após megaoperação policial no Rio de Janeiro
Com mais de 100 mortos e dezenas de presos, ação das forças de segurança é considerada a mais letal da história do estado e provoca comoção e indignação entre moradores e familiares.
As cenas registradas na Praça São Lucas, no bairro da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, chocaram o país nesta terça-feira (28/10). Imagens captadas por drones mostraram corpos enfileirados e cobertos por lonas, resultado de uma megaoperação policial que deixou, segundo dados oficiais, pelo menos 119 mortos e 113 presos.
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, no entanto, divulgou um número ainda maior: 132 mortos, o que torna a ação a mais letal da história do estado.
Em meio à fumaça, viaturas incendiadas e destroços do confronto, familiares chegaram ao local para reconhecer os corpos das vítimas. A maioria eram mulheres mães, esposas e irmãs que, entre lágrimas, se ajoelharam diante dos cadáveres dispostos lado a lado.

A megaoperação mais letal da história do Rio

A operação começou ainda na madrugada, mobilizando centenas de policiais civis e militares, com apoio de helicópteros e veículos blindados. O objetivo, segundo as forças de segurança, era o de desarticular facções criminosas que atuam na região da Penha e adjacências, um dos principais redutos do tráfico na capital fluminense.
Entretanto, o desfecho foi uma tragédia sem precedentes. De acordo com os relatórios preliminares, houve intensos confrontos nas comunidades da Vila Cruzeiro, Chatuba e Complexo da Penha, resultando em dezenas de mortes.
Segundo o balanço oficial da Secretaria de Segurança Pública do Rio, foram:
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/n/o/wyvuXGThqsTCN6OxTmfQ/112852914-ri-rio-de-janeiro-29-10-2025-dezenas-de-corpos-sao-deixados-na-praca-da-vila-cruzeir-2-.jpg)
-
119 mortos confirmados até o momento;
-
113 presos;
-
grande apreensão de armas e drogas;
-
danos materiais em residências e estabelecimentos locais.
A Defensoria Pública contesta esses números, afirmando que o total de mortos pode chegar a 132, já que muitos corpos ainda estariam sendo identificados e encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML).
Imagens aéreas e o horror revelado pelos drones
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/d/Y/gLtNDhQwSaj0FtqDXiuw/whatsapp-image-2025-10-29-at-09.33.34-1-.jpeg)
Os drones utilizados por equipes de imprensa e por moradores mostraram cenas impactantes. Na Praça São Lucas, cerca de 70 corpos foram vistos enfileirados, cobertos por lonas azuis e panos improvisados.
Policiais e equipes do Corpo de Bombeiros organizaram a remoção dos cadáveres, enquanto famílias tentavam, entre gritos e desespero, reconhecer seus entes queridos.
As imagens, amplamente compartilhadas nas redes sociais, causaram repercussão nacional e internacional, reacendendo o debate sobre a violência policial, o uso da força e o controle de operações em áreas urbanas densamente povoadas.
Em um dos vídeos mais comoventes, uma mulher é vista abraçando o corpo de um parente e chorando:
“Por que ele saiu de casa?”, lamenta, em meio à multidão silenciosa.
Essas cenas, segundo observadores, lembram episódios de conflitos armados e zonas de guerra, evidenciando o nível extremo de violência que a operação alcançou.
O impacto humano: Dor, desespero e indignação
A manhã seguinte à operação foi marcada por luto e indignação. Moradores da Penha classificaram a ação como “massacre” e “chacina”, denunciando o que consideram um uso desproporcional da força policial.
Muitas das famílias relataram que as vítimas não tinham envolvimento com o tráfico, e que alguns morreram tentando se proteger dentro de casa.
O relato de uma moradora sintetiza o sentimento geral:
“Eles entraram atirando em tudo. Meu filho estava indo trabalhar e nunca mais voltou.”
ONGs e entidades de direitos humanos exigem investigação independente e acesso às imagens completas dos drones, que podem ajudar a esclarecer se houve execuções extrajudiciais ou excessos por parte dos agentes.
O Conselho Federal da OAB e a Anistia Internacional Brasil também se manifestaram, classificando o episódio como alarmante e cobrando transparência das autoridades estaduais.
As declarações oficiais e a reação do governo
Em coletiva de imprensa, o governador Cláudio Castro (PL) defendeu a operação, classificando-a como “um sucesso” e afirmando que “quanto a vítimas, só houve policiais”.
A declaração gerou revolta imediata entre os moradores e familiares das vítimas, que a consideraram insensível e descolada da realidade.
“Dizer que só houve policiais entre as vítimas é apagar mais de 100 corpos que estão aqui”, protestou uma moradora.
Castro alegou que a ação foi “planejada e necessária” para combater “grupos criminosos que aterrorizam o Rio de Janeiro”, ressaltando que o estado não recuará diante do crime organizado.
Entretanto, especialistas em segurança pública destacam que operações com alto número de mortos não significam eficiência, mas sim falta de inteligência e controle tático.
Segundo o sociólogo e pesquisador Ignácio Cano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ):
“Operações assim comprometem a confiança da população nas instituições e geram um ciclo interminável de violência.”
A reação nacional e internacional
A repercussão da operação ultrapassou as fronteiras do Brasil. Veículos internacionais, como BBC News, The Guardian e Al Jazeera, repercutiram as imagens e classificaram o episódio como “um dos maiores massacres urbanos da América Latina em décadas”.
Nas redes sociais, hashtags como #ChacinaDaPenha e #JustiçaPelasVítimas rapidamente se tornaram tópicos mais comentados no Twitter e Instagram, com milhões de menções pedindo investigação independente e mudanças urgentes nas políticas de segurança pública do estado.
Em Brasília, parlamentares de diferentes partidos exigiram esclarecimentos imediatos do governo do Rio e intervenção federal para apurar as circunstâncias da operação.
Histórico de operações letais no Rio
A operação da Penha ultrapassa, em número de mortos, outras ações que já haviam chocado o país:
-
Jacarezinho (2021) – 28 mortos;
-
Complexo do Alemão (2022) – 19 mortos;
-
Vila Cruzeiro (2022) – 23 mortos.
Com mais de 100 mortos, a operação da Penha se torna a mais letal da história do Rio de Janeiro, superando até mesmo as incursões de maior repercussão dos últimos anos.
Organizações de direitos humanos alertam que o Brasil, especialmente o estado do Rio, tem uma política de segurança baseada na letalidade, onde o confronto armado é frequentemente utilizado como primeira opção, e não como último recurso.
A investigação e o papel da Defensoria Pública
Diante da gravidade do caso, a Defensoria Pública do Estado solicitou acesso integral aos relatórios da operação, incluindo filmagens de drones e comunicações internas da polícia.
A instituição também pediu proteção para testemunhas e acompanhamento das autópsias realizadas no Instituto Médico Legal (IML).
Segundo a defensora pública Patrícia de Oliveira, o objetivo é garantir que nenhuma morte seja tratada como “colateral” e que as famílias recebam respostas concretas:
“Cada corpo ali representa uma história, uma família destruída. É dever do Estado esclarecer o que aconteceu.”
Entre o medo e a rotina: A vida nas comunidades após o confronto
Mesmo após o término da operação, o clima na Penha é de medo e tensão. Escolas e comércios permaneceram fechados, e o transporte público sofreu interrupções por várias horas.
Moradores relatam que ainda há corpos desaparecidos, além de pessoas feridas sem atendimento adequado.
Uma moradora da Vila Cruzeiro declarou:
“A gente vive com medo o tempo todo. Aqui, quando tem operação, ninguém sabe se vai voltar pra casa.”
Essa rotina de violência crônica reflete um problema estrutural no Rio de Janeiro: a ausência do Estado nas áreas periféricas, substituída por incursões armadas esporádicas que não resolvem as causas profundas da criminalidade.
Reflexão: segurança pública ou política de extermínio?
A operação da Penha reacende um debate antigo e doloroso: até que ponto o combate ao crime justifica o uso extremo da força?
Enquanto o governo estadual defende a ação como “necessária”, especialistas e ativistas questionam se o Estado não está se tornando o próprio agente de violência que diz combater.
De acordo com o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública:
“O problema do Rio não é falta de polícia, mas excesso de uma polícia que mata e morre sem planejamento, sem inteligência e sem resultados sustentáveis.”
A discussão ultrapassa a Penha e expõe um modelo de segurança baseado em estatísticas de confronto, em vez de investigações e políticas sociais duradouras.
Conclusão: Uma tragédia que exige respostas
As imagens dos corpos enfileirados na Praça São Lucas se tornaram símbolo de uma tragédia coletiva. Mais do que números, elas representam vidas interrompidas e famílias destruídas por uma operação que promete segurança, mas deixa um rastro de dor.
A megaoperação da Penha não é apenas um episódio isolado — é um reflexo de um modelo de segurança baseado na violência, na desigualdade e na ausência de diálogo com as comunidades.
Enquanto autoridades e forças policiais defendem suas ações, o país assiste, mais uma vez, à repetição de uma história marcada pela morte, pelo silêncio e pela impunidade.
O Rio de Janeiro, mais do que nunca, precisa repensar sua política de segurança pública e entender que a paz verdadeira não nasce do fuzil, mas do respeito à vida, à justiça e aos direitos humanos.






