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O Desaparecimento Silencioso dos Jumentos no Brasil: 94% da População Foi Perdida em Três Décadas

Essa mudança, silenciosa e pouco debatida, reflete transformações profundas na sociedade, na economia e no modo de vida rural do país.

Por séculos, os jumentos foram figuras indispensáveis no cenário rural brasileiro. Principalmente no Nordeste, esses animais prestavam serviços essenciais, transportando água, alimentos, cargas e até mesmo pessoas por regiões áridas, trilhas estreitas e vilarejos isolados. No entanto, nas últimas três décadas, sua presença despencou de forma alarmante: o Brasil perdeu 94% de sua população de jumentos, conforme apontam dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Brasil já perdeu 94% da população de jumentos

O jumento e sua importância histórica no Brasil

Símbolo de resistência, força e adaptabilidade, o jumento foi durante muito tempo uma peça-chave para a sobrevivência em áreas secas e de difícil acesso. Com sua capacidade de suportar o calor intenso e a escassez de água, tornou-se o animal de carga ideal para os sertanejos, substituindo com vantagem cavalos e burros em terrenos áridos e pedregosos. Sua presença era tão significativa que inspirava cantigas populares, ditados e até expressões culturais profundamente enraizadas na identidade nordestina.

Durante o século XX, especialmente nas primeiras décadas, era quase impossível percorrer as zonas rurais do semiárido sem cruzar com esses animais. Eles integravam a rotina das famílias, eram utilizados na agricultura, no transporte escolar e na locomoção entre vilarejos. A relação entre o homem nordestino e o jumento era de dependência mútua — um laço de convivência marcado por utilidade e respeito.

O avanço da tecnologia e o abandono progressivo

Com o passar dos anos, porém, esse cenário foi mudando. A modernização do campo, iniciada a partir dos anos 1990 e intensificada nos anos 2000, trouxe novas opções de transporte e mecanização. Motocicletas passaram a percorrer com facilidade os caminhos antes exclusivos dos jumentos; tratores assumiram a função de arar a terra; carros e caminhonetes chegaram a áreas antes inacessíveis graças a programas de infraestrutura rural.

Além disso, outras espécies como cavalos e burros passaram a ser preferidas em regiões mais acessíveis, por serem consideradas mais ágeis ou versáteis. Com isso, o jumento foi progressivamente excluído da vida produtiva rural — sem que políticas públicas ou programas de proteção acompanhassem essa transição.

A substituição se deu de forma silenciosa, quase invisível, refletindo uma mudança social mais ampla: o êxodo rural, a transformação dos modos de produção e a progressiva urbanização do interior. Enquanto isso, os jumentos, sem função econômica clara, passaram a ser deixados à própria sorte — muitos abandonados, outros abatidos ou vendidos ilegalmente para fins questionáveis, como o tráfico internacional de peles e carne.

Sobrevivência nas margens: O papel atual do jumento

População de jumentos cai 94% no Brasil - Diário do Poder

Apesar da queda drástica na população, os jumentos ainda exercem papel relevante em comunidades isoladas. Em áreas de difícil acesso, onde a modernidade ainda não chegou plenamente, esses animais continuam sendo utilizados para transporte e carga, mantendo sua importância funcional.

É justamente nessas localidades que reside a esperança de preservação dessa espécie no Brasil. Grupos de pesquisadores, ONGs e defensores dos direitos dos animais vêm alertando sobre o risco de desaparecimento total dos jumentos e a perda irreversível de um patrimônio genético e cultural. Para eles, o jumento não é apenas um animal de trabalho, mas um símbolo da resistência do povo sertanejo e um elemento chave da história do país.

Patrimônio em risco: O que pode ser feito?

A atual situação exige uma resposta urgente por parte do poder público e da sociedade. A preservação do jumento vai além de uma questão ecológica; trata-se também de reconhecer e valorizar um elemento cultural, histórico e simbólico de regiões inteiras do Brasil.

Algumas propostas já começam a ser debatidas, como:

  • Criação de programas de proteção e reprodução da espécie;

  • Incentivo ao uso racional dos jumentos em atividades ecoturísticas e pedagógicas;

  • Apoio a projetos de educação rural que incluam o valor histórico do jumento;

  • Criação de santuários e espaços de acolhimento para animais abandonados.

Preservar o jumento é também preservar um capítulo da história rural brasileira, garantindo que futuras gerações compreendam o papel vital que esses animais desempenharam no desenvolvimento do país.

Conclusão:


O desaparecimento dos jumentos no Brasil não é apenas o fim de uma era; é o apagamento gradual de uma relação milenar entre homem e animal, campo e cultura. Em meio ao avanço tecnológico e à modernização do campo, é preciso lembrar que o progresso não deve significar o esquecimento. Os jumentos, companheiros de jornada por tantos anos, merecem mais do que o silêncio merecem reconhecimento, respeito e proteção.

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