Por que somos capazes de sentir frio?
A ciência por trás da sensação térmica revela um sofisticado sistema de alerta do corpo humano
Sentir frio é uma experiência universal: um arrepio na pele, dentes batendo, e a vontade quase instintiva de buscar abrigo ou agasalho. Mas por que, exatamente, sentimos frio? A resposta vai muito além do desconforto. Pesquisadores vêm estudando há décadas os mecanismos que nos permitem perceber a queda de temperatura, e a ciência moderna já é capaz de explicar com precisão como o corpo humano detecta e reage ao frio. Essa capacidade está diretamente ligada à nossa sobrevivência — e envolve sensores especializados, reações neurológicas e até estratégias evolutivas.
Como o corpo detecta o frio?
A sensação de frio começa na pele, onde existem receptores térmicos especializados. Esses receptores são neurônios sensoriais, conhecidos como termorreceptores, que captam mudanças sutis de temperatura. Um dos principais responsáveis por essa detecção é uma proteína chamada TRPM8, localizada na membrana das células nervosas da pele.
Essa proteína age como um “sensor molecular de frio”. Quando a temperatura cai abaixo de um determinado limiar (geralmente abaixo de 26 °C), o TRPM8 se ativa e envia sinais elétricos ao cérebro, que interpreta essas mensagens como frio. Curiosamente, essa mesma proteína também responde à menta e ao mentol — razão pela qual sentimos uma sensação de frescor ao consumir ou aplicar produtos mentolados.
Por que sentimos frio mais intensamente em certas partes do corpo?
Nem todas as partes do corpo têm a mesma sensibilidade ao frio. Áreas como dedos, nariz, orelhas e pés são mais propensas a esfriar rapidamente. Isso acontece porque esses locais têm menor irrigação sanguínea e estão mais expostos ao ambiente externo.
Além disso, o corpo prioriza a proteção dos órgãos vitais quando a temperatura externa cai. Para isso, ele reduz o fluxo de sangue para as extremidades, o que acentua a sensação de frio nessas regiões. Esse mecanismo é uma estratégia evolutiva para evitar a hipotermia.
A função protetora do frio
Sentir frio não é apenas uma questão de percepção — é um sistema de alarme biológico que nos protege de danos. Através da sensação térmica, o corpo nos alerta para buscar calor antes que a temperatura interna caia a níveis perigosos.
Quando sentimos frio, o corpo reage de várias maneiras: os vasos sanguíneos se contraem, o metabolismo pode acelerar e surgem os arrepios, resultado da contração involuntária dos músculos para gerar calor. Em casos extremos, essa resposta pode salvar vidas.
O que dizem as pesquisas mais recentes?
Estudos recentes têm aprofundado a compreensão dos canais iônicos que participam da detecção térmica. Em 2021, o Prêmio Nobel de Medicina foi concedido aos pesquisadores David Julius e Ardem Patapoutian justamente por descobrirem os receptores que permitem sentir frio, calor e toque.
Essas descobertas têm impactos práticos: ao entender como o corpo percebe o frio, a ciência pode desenvolver novos tratamentos para dor, doenças neurológicas e distúrbios sensoriais. Além disso, os avanços ajudam a explicar por que algumas pessoas têm mais sensibilidade ao frio do que outras — uma questão que envolve genética, metabolismo e até aclimatação.
Conclusão
Sentir frio é muito mais do que um incômodo passageiro — é um mecanismo vital que nos permite reagir e nos proteger do ambiente. Graças a proteínas sensoriais como a TRPM8 e a complexa rede de comunicação do sistema nervoso, nosso corpo consegue identificar perigos térmicos antes que seja tarde. A ciência continua a desvendar os detalhes desse processo, trazendo não só mais compreensão sobre o funcionamento do corpo humano, mas também novas possibilidades para a medicina do futuro.