“Molécula da felicidade” detectada no asteroide Bennu ajuda a explicar origem da vida
Amostras coletadas pela missão OSIRIS-REx revelam triptofano — precursor da serotonina — pela primeira vez em material extraterrestre
Um dos achados científicos mais surpreendentes dos últimos anos surgiu a partir de apenas 121,6 gramas de poeira e fragmentos rochosos coletados no asteroide Bennu. O novo estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), revelou a presença de moléculas ainda não detectadas em materiais extraterrestres — incluindo o aminoácido triptofano, conhecido por ser o precursor da serotonina, popularmente chamada de “molécula da felicidade”.
Esse marco científico reforça teorias de que componentes essenciais para a vida podem ter chegado à Terra por meio de impactos de asteroides bilhões de anos atrás. E, ao mesmo tempo, aprofunda nossa compreensão sobre como planetas e formas de vida podem surgir em diferentes regiões do Sistema Solar.

O que foi descoberto nas amostras de Bennu

A missão OSIRIS-REx, lançada pela NASA em 2016, trouxe à Terra o material mais íntegro já coletado de um asteroide. Nas análises iniciais, os pesquisadores encontraram algo sem precedentes: o triptofano, um aminoácido essencial que nunca havia sido detectado anteriormente em meteoritos ou qualquer outro material espacial.
Por que esse achado é tão importante?
Até então, já haviam sido detectados:
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as cinco nucleobases presentes no DNA e RNA
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14 aminoácidos comuns em organismos vivos
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derivados de vitamina B3, que já haviam sido identificados em Bennu
Mas o triptofano sempre faltava na lista — e por um bom motivo.
Por que o triptofano nunca havia sido detectado antes?
O triptofano é uma molécula extremamente sensível e de fácil degradação, o que explica por que meteoritos que chegam à Terra geralmente não o preservam. O calor, a fricção e as colisões típicas da queda de um meteorito comprometem moléculas frágeis como essa.
O que tornou diferente a coleta da OSIRIS-REx?
A coleta da amostra foi feita no próprio espaço, utilizando um método delicado que evitou choques e aquecimento, preservando até mesmo moléculas instáveis. Isso permitiu que pela primeira vez um aminoácido tão sensível fosse encontrado praticamente intacto — um feito que abre novas portas para a astroquímica e para o estudo da origem da vida.
A importância do triptofano: da bioquímica ao espaço
O triptofano é o precursor de três substâncias fundamentais:
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Serotonina – neurotransmissor que influencia humor e bem-estar
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Melatonina – hormônio regulador do sono
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Vitamina B3 (niacina) – crucial para metabolismo energético
Encontrar seu precursor em um asteroide significa que compostos necessários para a vida podem ter se formado fora da Terra, em ambientes primordiais do Sistema Solar.
Vida extraterrestre? Impacto nas teorias sobre a origem da vida
Ao analisar os resultados das amostras, os cientistas afirmam:
“Nossos resultados ampliam as evidências de que moléculas orgânicas prebióticas podem se formar em corpos planetários primitivos e podem ter sido transportadas para a Terra primitiva e outros corpos do Sistema Solar, contribuindo potencialmente para a origem da vida.”
A teoria da panspermia ganha força
A descoberta fortalece a hipótese de que:
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asteroides e cometas podem ter carregado moléculas orgânicas
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impactos constantes na Terra jovem podem ter acelerado o surgimento de vida
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moléculas prebióticas podem existir em grande variedade no Sistema Solar
Ou seja, a vida pode não ter começado do zero na Terra, mas sim recebido “entregas cósmicas” de blocos fundamentais da biologia.
Como as moléculas se formam em asteroides como Bennu?
Bennu é um remanescente de mais de 4,5 bilhões de anos, formado a partir da aglomeração de poeira e elementos originados da nebulosa protossolar. Em seu interior, já foram identificados:
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minerais hidratados
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moléculas orgânicas simples e complexas
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compostos contendo carbono, hidrogênio e nitrogênio
Em ambientes frios e protegidos do calor extremo, esses compostos podem reagir e formar moléculas cada vez mais complexas — como aminoácidos, nucleobases e até precursores vitamínicos.
Bennu: um laboratório primordial — e um potencial risco

O asteroide Bennu possui aproximadamente 500 metros de diâmetro e é considerado um dos objetos mais potencialmente perigosos à Terra.
Probabilidade de impacto
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chance de colisão até 2300: 1 em 1.750
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data de maior risco: 24 de setembro de 2182
Entender sua composição é essencial não apenas para estudar a origem da vida, mas também para aprimorar estratégias de defesa planetária.
Amostra histórica: O que ainda pode ser descoberto?
A amostra de Bennu ainda está longe de revelar todos os seus segredos. Pesquisadores preveem que futuras análises podem identificar:
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outros aminoácidos extremamente sensíveis
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compostos orgânicos ainda desconhecidos na Terra
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padrões que ajudem a recriar a química do Sistema Solar primitivo
Cada molécula encontrada reforça o papel dos asteroides como “cápsulas do tempo biológicas”.
Conclusão
A detecção do triptofano no asteroide Bennu é um marco científico que muda nossa compreensão sobre a origem da vida. Ela reforça que os ingredientes fundamentais para a biologia podem ter se formado no espaço e sido distribuídos pelos asteroides que bombardearam a Terra primitiva.
Mais do que explicar o passado, essa descoberta abre portas para o futuro: estudar como moléculas complexas surgem naturalmente em ambientes extraterrestres pode ajudar a identificar potenciais habitats de vida em outras partes do universo.
Com apenas 121,6 gramas, Bennu nos entregou uma das pistas mais valiosas sobre como a vida começou — e ainda há muito a ser revelado.






