Saúde e Bem Estar

Alimentação e Miopia Infantil: Estudo do British Journal of Ophthalmology revela impacto dos nutrientes na saúde ocular

Como a dieta pode influenciar o risco de desenvolvimento da miopia em crianças de 6 a 8 anos

A miopia, um dos distúrbios visuais mais comuns em todo o mundo, tem se tornado cada vez mais frequente entre crianças e adolescentes. Caracterizada pela dificuldade em enxergar objetos à distância, essa condição não apenas afeta a qualidade de vida e o desempenho escolar, mas também pode trazer complicações mais sérias ao longo da vida, como o aumento do risco de descolamento de retina, glaucoma e degeneração macular.

No dia 19 de agosto, um estudo publicado no prestigiado British Journal of Ophthalmology trouxe uma nova perspectiva para o debate: a alimentação infantil pode desempenhar um papel significativo no desenvolvimento da miopia.

Pesquisadores acompanharam 1.005 crianças com idades entre 6 e 8 anos, analisando não apenas seus hábitos alimentares, mas também fatores como tempo em atividades ao ar livre e exposição a telas. Os resultados mostraram que nutrientes específicos podem influenciar diretamente a saúde ocular e até mesmo o comprimento axial do olho, fator determinante no grau de miopia.

Entenda os sinais e o tratamento da miopia infantil - Óticas Djhu

1. Miopia: um problema em crescimento global

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A miopia tem se tornado uma epidemia mundial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que até 2050, metade da população global poderá ser míope.

Entre as principais causas estão:

  • Estilo de vida moderno, marcado por menos tempo ao ar livre e maior uso de dispositivos eletrônicos.

  • Predisposição genética, já que filhos de pais míopes têm mais chances de desenvolver o problema.

  • Fatores ambientais e comportamentais, como iluminação inadequada, esforço visual intenso e, agora, como apontam os novos estudos, a alimentação.

Essa descoberta amplia a compreensão de que a miopia não é determinada apenas por fatores hereditários e hábitos de visão, mas também pela qualidade nutricional da dieta na infância.

2. O estudo: metodologia e principais descobertas

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Os cientistas analisaram:

  • 1.005 crianças entre 6 e 8 anos de idade.

  • Os hábitos alimentares por meio de questionários e registros.

  • O tempo de exposição às telas (televisão, computadores, tablets e celulares).

  • O tempo de atividades ao ar livre.

  • Medidas oftalmológicas, incluindo:

    • Comprimento axial do olho (distância da córnea até a retina).

    • Equivalente esférico (grau de miopia).

Principais achados:

  • Crianças com maior consumo de ácidos graxos ômega-3 (presentes em óleo de peixe, salmão, sardinha, atum, chia e linhaça) apresentaram olhos mais curtos e graus de miopia menores.

  • Em contraste, crianças com alto consumo de gorduras saturadas (como manteiga, óleo de palma e carne vermelha) mostraram maior comprimento axial do olho, o que se associa ao aumento do risco e da progressão da miopia.

Esses dados sugerem que a nutrição desempenha um papel regulador no desenvolvimento ocular durante a infância.

3. Ômega-3: protetor natural da visão

Os ácidos graxos ômega-3 são conhecidos por seus benefícios à saúde cardiovascular, cerebral e imunológica. No entanto, cada vez mais pesquisas têm destacado seu papel na saúde ocular.

Como o ômega-3 ajuda na visão:

  • Contribui para a formação da retina durante o desenvolvimento.

  • Auxilia na redução de processos inflamatórios no olho.

  • Pode influenciar o crescimento axial do globo ocular, evitando o alongamento excessivo que causa a miopia.

  • Melhora a lubrificação ocular, prevenindo o olho seco, comum em crianças que passam muito tempo diante de telas.

Alimentos ricos em ômega-3 incluem:

  • Peixes de água fria: salmão, sardinha, atum, cavala.

  • Sementes e oleaginosas: chia, linhaça, nozes.

  • Óleos vegetais: óleo de linhaça e de canola.

A inclusão desses alimentos na dieta infantil pode ter um papel estratégico na prevenção da miopia e no fortalecimento da saúde ocular geral.

4. Gorduras saturadas: vilãs silenciosas para os olhos

Enquanto o ômega-3 mostra efeitos protetores, o estudo apontou que as gorduras saturadas podem ter o efeito contrário.

O consumo excessivo desse tipo de gordura está ligado a problemas cardiovasculares, obesidade e inflamações crônicas. Quando se trata da visão, as gorduras saturadas parecem estimular o crescimento axial do olho, aumentando o risco de desenvolvimento e progressão da miopia.

Fontes de gorduras saturadas incluem:

  • Manteiga e margarina.

  • Óleo de palma (muito usado em produtos industrializados).

  • Carnes vermelhas gordurosas.

  • Produtos ultraprocessados (salgadinhos, bolachas recheadas, frituras).

Isso não significa que todas essas fontes devam ser eliminadas completamente, mas sim que seu consumo deve ser controlado e equilibrado dentro de uma alimentação saudável.

5. Outros fatores associados à miopia

Além da alimentação, os pesquisadores reforçam que a miopia infantil é influenciada por um conjunto de hábitos de vida:

  • Exposição a telas: quanto maior o tempo em frente a celulares, tablets e computadores, maior o risco de fadiga ocular e alongamento do globo ocular.

  • Falta de atividades ao ar livre: estudos mostram que a exposição à luz natural ajuda a regular o crescimento do olho e reduzir a progressão da miopia.

  • Fatores genéticos: filhos de pais míopes têm maior probabilidade de apresentar o problema, embora a genética interaja com fatores ambientais.

Assim, a prevenção da miopia deve envolver uma abordagem integrada: dieta equilibrada, controle de telas e incentivo a atividades externas.

6. Implicações para políticas de saúde e educação

Os resultados do estudo têm grande relevância para políticas públicas voltadas à saúde infantil. Algumas ações que poderiam ser consideradas incluem:

  • Programas de educação nutricional em escolas, incentivando o consumo de peixes e alimentos ricos em ômega-3.

  • Campanhas de conscientização para famílias sobre os riscos do excesso de gorduras saturadas.

  • Incentivo a atividades ao ar livre como parte da rotina escolar.

  • Orientações médicas regulares para acompanhar o desenvolvimento da visão das crianças.

Essas medidas poderiam reduzir não apenas os índices de miopia, mas também contribuir para uma melhor saúde geral na infância.

7. Caminhos futuros da pesquisa

Embora os resultados sejam promissores, os cientistas destacam que ainda são necessários mais estudos de longo prazo para confirmar a relação entre alimentação e miopia.

Algumas questões que devem ser investigadas incluem:

  • Qual a quantidade ideal de ômega-3 para garantir proteção ocular em crianças?

  • Existem outros nutrientes com efeito semelhante?

  • Como os fatores genéticos interagem com a dieta no desenvolvimento da miopia?

Responder a essas perguntas ajudará a desenvolver estratégias preventivas mais eficazes.

Conclusão

O estudo publicado no British Journal of Ophthalmology reforça que a alimentação desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da miopia infantil. Enquanto o consumo de ômega-3 mostrou efeitos protetores, reduzindo o risco de progressão da doença, o excesso de gorduras saturadas esteve associado ao aumento da miopia.

Essas descobertas abrem caminho para novas abordagens de prevenção, mostrando que cuidar da visão das crianças não se resume apenas a limitar telas e incentivar atividades ao ar livre, mas também a investir em uma nutrição balanceada e saudável.

A mensagem central é clara: o que as crianças comem hoje pode influenciar não apenas sua saúde geral, mas também sua visão no futuro.

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